Independentemente da nossa localização geográfica é fácil revermo-nos, em algum ponto, nesta narrativa: Acordamos para um novo dia numa cidade que, apesar de acolhedora, nos apresenta uma série de desafios.
Saíamos de casa e recebemos as filas de trânsito, os autocarros que se atrasam, os caixotes de lixo cheios, a falta de ciclovias, as zonas pouco iluminadas e inseguras, a distância de deslocação excessiva para ter acesso a serviços básicos, a poluição atmosférica e sonora, a inexistência de ruas sem carros, a pressão sobre os recursos naturais, a urbanização rápida e desordenada. E qual o resultado desta soma: menos eficiência, menos conveniência e menos qualidade de vida.
Sendo ainda mais analíticos e críticos podemos ir mais longe. Estes acontecimentos diários têm naturalmente um impacto negativo na saúde mental, porque podem resultar em altos níveis de stress e ansiedade. Também a ligação das comunidades é prejudicada pela ausência de espaços públicos bem projetados que dificultam a interação social, e a falta de conexão com o espaço em que vivemos pode resultar no enfraquecimento da identidade cultural, enfraquecendo sentimento de pertença.
Não é necessário aceitar esta realidade como um fado, acreditar que não há outras opções e que todas as implicações que tudo isto tem nos nossos dias nunca vai mudar. O mundo é cada vez mais digital e
interconectado, e a tendência não é de abrandamento, apenas as cidades que não acompanham este movimento enfrentam uma série de desafios relacionados com a falta de eficiência urbana, de saúde e segurança pública, e de sustentabilidade ambiental, que comprometem de forma impactante o seu desenvolvimento e a satisfação dos padrões de bem-estar de quem nelas vive.
As nossas cidades precisam de ser inteligentes? Sim. É urgente? Sim. É fácil? Não, mas as soluções existem e estão disponíveis. Onde? Por exemplo, na Smart Cities Expo World Congress de Barcelona 2023! E é fácil perceber que entre 577 palestrantes de mais de 140 países, 230 sessões, de apresentação, 1106 expositores e 25300 participantes, a quantidade de soluções apresentadas foi imensurável, e isso é da matéria que se faz a ambição.
Imaginem um encontro com entidades multifacetadas, onde acontece o match perfeito entre a investigação, a tecnologia, a inovação, a arquitetura, engenharia, as comunidades, mas com uma enorme descontração. Um espaço único em que se promove a ligação dos vários pontos das cidades, onde são apresentadas soluções que muitas vezes terminam com a pergunta: «Como é que não pensámos nisto antes?». Uma exposição de smart cities é isto, tipo o Batman da inovação urbana, a Smart Cities Expo World Congress de Barcelona 2023 foi isto!
Mas há mais: da partilha de experiências e conhecimentos, surgem também novas ideias, mais criativas e eficazes para os desafios. A colaboração e a troca de conhecimento não apenas enriquecem o pensamento individual, mas também fortalecem coletivamente a capacidade de enfrentar problemas complexos e encontrar maneiras inovadoras de abordá-los. Para quem gosta, como nós, de pensar cidade, é ativo na procura e implementação de estratégias globais que resultem em ações locais que promovam o desenvolvimento, que integra na operação soluções inteligentes em projetos urbanos, que tem por missão ser reconhecidos como especialistas em arquitetura, engenharia e tecnologia, mas
originais na solução, e que acredita que os eventos são o palco ideal para destacar as soluções inovadoras desenvolvidas e contribuir para o diálogo global sobre o futuro das cidades, a participação, à semelhança das três edições anteriores, tinha de voltar a acontecer.
E aconteceu. Saídos de Coimbra, juntámo-nos a sete empresas de outras cidades nacionais, câmaras municipais, universidades, comunidades intermunicipais e outras entidades nacionais. Saímos inspirados, mas também sabemos ter os pés assentes na terra sabendo que a implementação enfrenta obstáculos significativos, que as infraestruturas existentes muitas vezes não suportam algumas destas abordagens, que a resistência à mudança por interesses estabelecidos pode dificultar a transformação necessária, que a superação dos obstáculos exigirá os esforços coordenados de governos, comunidades e setor privado, que a decisão de uma cidade ser mais smart deve sempre
ser feita sem a desresponsabilização de conseguir equilibrar os avanços tecnológicos com a equidade, garantindo que todos os cidadãos tenham acesso aos benefícios e que as preocupações éticas, como o tratamento de dados pessoais, sejam abordadas de maneira adequada. E nada disto tem de determinar o fim da ambição de ter uma cidade mais inteligente.
O pop-up de inovação em Barcelona diz-nos que há soluções, altamente focadas nas infraestruturas digitais, na mobilidade sustentável e na participação cidadã e governação colaborativa. Os produtos incluíam tecnologias para monitorização urbana, sensores inteligentes para recolha de dados ambientais, soluções de mobilidade elétrica, sistemas de gestão de resíduos e iluminação pública eficiente. Os serviços englobaram plataformas de dados urbanos, consultoria em planeamento
urbano inteligente, integração de sistemas de transporte público, implementação de redes de energia sustentável, e iniciativas de inclusão digital para cidadãos. Foram ainda partilhadas inovações em segurança cibernética, integração de sistemas, e soluções para promover o envolvimento de quem vive nas cidades nas decisões através de plataformas digitais, consultas públicas e ferramentas interativas.
O caminho em direção às cidades mais inteligentes é tanto uma questão de inovação tecnológica como de construção coletiva de ambientes urbanos mais equitativos e resilientes. As smart cities estão a acontecer, aliando infraestruturas digitais, a mobilidade sustentável e a participação cidadã e governação colaborativa. A exposição mundial que aconteceu em Barcelona mostra que esta não é uma visão futurista, mas uma resposta de agora aos desafios de hoje e de amanhã. Podemos trazer
muitas das soluções para Coimbra, também os temas e os debates, e continuar a promover a mobilização, a inteligência e a ação coletiva para ter uma cidade melhor. Seguimos juntos!

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Rita Januário, innovation manager, Engenheira Civil, coordenadora do Dept. Marketing, Comunicação e Novos Negócios da TUU, co-fundadora da Cityoo
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