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Opinião | SMTUC: como fazer uma omeleta sem ovos

Por Tomás Batista

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Fotografia: Mário Canelas

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Não se tem falado de outra coisa na nossa cidade. A onda de problemas que está a assombrar os Serviços Municipalizados de Transportes Urbanos de Coimbra (SMTUC) e a penalizar quem escolhe, diariamente, o autocarro como o seu meio de transporte, é reveladora de uma política de estagnação à qual se junta uma falta de visão e gestão estratégica de futuro. Mas como se chegou até aqui?

Numa curta análise, observa-se que os primeiros sinais de problemas remontam a 2012, quando os SMTUC, tal como o resto do país, vieram igualmente a ser afetados pelos efeitos da crise e da troika, com cortes sucessivos, redução de operações e aumento do número de autocarros encostados, ao mesmo tempo em que, pelo menos, até 2015 se totalizava um total de zero novos autocarros adquiridos. Com a mudança de executivo municipal, em 2014, mantêm-se as mesmas medidas de contenção do executivo anterior, impostas pela grave conjuntura político-económica, levando o Conselho de Administração dos SMTUC e o próprio executivo a elaborar um estudo que traçara dois cenários distintos para a renovação da frota de veículos.

Segundo o Relatório de Gestão de 2014, a taxa de imobilização da frota situava-se em 20,4%, enquanto a média de idade dos veículos em 14,10 anos, dos quais mais de 20% já possuíam uma idade superior a 20 anos. Perante esta situação e as operações nas 88 linhas da rede, os dois cenários de investimento traçados subdividiam-se em adquirir 10 autocarros novos por ano, entre 2015 a 2019, com vista a atingir a idade média de 9,8 anos no final do período ou 5 autocarros usados ainda em 2014, e de 5 autocarros novos e 10 usados por ano, de 2015 a 2019, o que permitiria baixar a idade média para 10,2 anos no final do período. Em suma, isto permitiria ao final destes quatro anos, 50 autocarros novos, no primeiro cenário, ou 25 autocarros novos e 50 usados com menos de 10 anos, no caso do segundo mas tal não se viria a concretizar, não se cumprindo este plano para a renovação da frota.

No que toca à reformulação da rede, uma notícia de 21 de agosto de 2016, publicada no Diário As Beiras, dava conta de um estudo, encomendado em 2013 ainda durante o mandato de Barbosa de Melo, elaborado pela TREMNO, uma empresa especializada em engenharia que sugeriu, entre várias propostas, a supressão de linhas e variantes de linhas e inclusão destas em outras já existentes, como forma de poupar recursos sem penalizar os utentes, ou ainda da criação de uma rede da madrugada, com três linhas a funcionar durante este período e com frequências variáveis. Tirando as propostas referentes ao tarifário e às metas de redução de quilómetros percorridos, todas as restantes viriam a ser, para grande espanto, arrumadas na gaveta.

Entre 2015 e 2019, apenas 35 autocarros adicionais entraram ao serviço, dos quais 18 autocarros (8 dos quais elétricos) eram novos e 17 usados, um total bastante inferior ao que o plano de 2014 previa. Em 2020, são adquiridos mais 6 autocarros usados, num ano em que o número de passageiros transportados e de quilómetros percorridos diminui abruptamente por conta dos efeitos da pandemia, o que potenciou uma redução de 40% dos serviços e podia ter dado tempo ao executivo para preparar a aquisição de novos veículos e uma reorganização interna das operações e recursos da empresa. Todavia, a estratégia escolhida foi inversa ao que era necessário ter sido feito.

Em 2021, a taxa de imobilização já se situava em 23,3% e a idade média dos veículos já ultrapassado os 15 anos, tendo, segundo o Relatório de Gestão de 2021, com a chegada de mais 6 autocarros usados a diesel e 9 miniautocarros elétricos. Contudo, face a uma frota cada vez mais envelhecida e insuficiente, o então executivo de Manuel Machado anuncia a expansão dos serviços dos SMTUC para as zonas Norte e Sul do município e a criação da ECOVIA, originando-se um aumento de operações que se reflete no número de linhas que passa de 88 para 110. Ao mesmo tempo, o governo português anunciava a abertura de candidaturas ao Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), uma oportunidade que os SMTUC podiam ter aproveitado para garantir financiamento europeu para uma renovação ampla da sua frota e que, mais uma vez, foi ignorada.

Voltando aos 6 autocarros usados adquiridos em 2021, os mesmos foram adquiridos à Holanda e chegaram a Coimbra a revelar algumas más condições, nomeadamente nos chassis, que segundo se consta vinham «podres». Acontece que estes mesmos autocarros, após pintura e uma leve revisão, foram apresentados e colocados ao serviço durante o período de expansão às novas zonas abrangidas pelos SMTUC, encontrando-se neste momento, segundo a Análise Técnica da Frota de 2023, 5 destes em estado de imobilização.

Em 2022, já com um novo executivo municipal liderado por José Manuel Silva e um retomar das operações ao período pré-pandemia, nem mesmo os 9 autocarros elétricos que entretanto chegaram conseguiram evitar o escalar da gravidade da situação, tendo, inclusive, outros 5 usados a diesel chegado em setembro, comprados aos TCB e alvo de vistoria mecânica, dos quais 3 já se encontram imobilizados atualmente segundo a mesma análise técnica. Estão também previstos a chegada de 22 novos autocarros elétricos (dos quais 12 são miniautocarros) ainda encomendados durante o mandato do anterior executivo, mas que se revelam insuficientes para fazer face às necessidades.

Perante este histórico de atuação, hoje encontramos uns SMTUC em situação de rotura, com mais de 43% da sua frota imobilizada, uma idade média de veículos em 16 anos e cerca de 47 autocarros com uma idade superior a 20 anos, existindo autocarros atualmente ao serviço já com mais de 36 anos de serviço. Encontramos um serviço que é o espelho do que o que pode ser feito antes, nunca deve ser deixado para depois, mediante tais consequências catastróficas e uma perda de confiança dos utentes no transporte público da cidade como nunca antes visto.

Urge elaborar um novo plano de investimento de renovação de frota e concretizá-lo o mais rápido possível, procurando adquirir alguns autocarros inicialmente, mesmo que sejam usados e com pouco tempo de serviço, para fazer face à atual emergência e então depois, utilizando os quadros comunitários como o Portugal 2030 assim que for possível, para renovar, pelo menos, 50% a 70% da frota. Todavia, de nada serve renovar a frota se a própria rede e as diferentes tipologias de serviço não forem, também elas, renovadas, sendo necessário criar uma nova rede, do zero, que consiga aumentar frequências e cobertura de serviço reduzindo o número extremamente elevado de linhas para um município como Coimbra, sugerindo-se, igualmente, a conjugação dos serviços com o futuro Metrobus do Mondego e com os comboios urbanos e regionais da CP.

Ademais, convém lembrar que enquanto a situação da rede nas zonas já servidas atualmente servidas não ficar normalizada, a expansão a novas zonas do município, como é exemplo a freguesia de
São João do Campo, não podem estar em cima da mesa, mediante repetição dos fatores de 2021 que levaram aonde estamos agora. Sugere-se ainda, entre inúmeras propostas que tenho e na ótica de assumir uma maior proximidade ao passageiro, incluir o serviço com horários em tempo real em aplicações como o Google Maps, para o qual já enviei um e-mail para os SMTUC e sobre o qual não obtive resposta até hoje, e uma simplificação das tabelas de horários presentes nas paragens de autocarro, que são as mesmas há mais de 15 anos e que dificultam a leitura, optando-se por um design mais simples e moderno com identificação das linhas por cores, conforme a zona da cidade que é servida.

Coimbra merece mais e melhor, as nossas gentes precisam de contar com um transporte público de qualidade que consiga recuperar a confiança perdida e se assuma uma verdadeira alternativa ao transporte individual. Mais que um direito dos nossos cidadãos, é um dever público.

Tomás Batista é natural da Lousã e estudante no 2°ano de Relações Internacionais no Instituto de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa. Em Dezembro de 2022 apresentou na Carris um projecto de sua autoria para uma nova rede de autocarros de madrugada que lhe valeu algum destaque na comunicação social e o aproveitamento, por parte da empresa, de algumas das suas sugestões já a implementar em 2023. Futuramente pretende especializar-se na área dos transportes e da mobilidade, para a qual está a contribuir com diversos projetos independentes e um forte espírito comunitário.

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