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COIMBRA NO MUNDO | Amesterdão, Holanda

Hoje moro em Amesterdão.

Aos 17 anos saí de Coimbra e fui estudar Economia na Universidade Nova de Lisboa. Queria abrir horizontes. Os Erasmus (em Roma e em Bergen) mostraram-me que há mais mundo do que Portugal e fiquei viciado na sensação de ser estrangeiro – o novo é, no início, cor-de-rosa, o diferente é uma aprendizagem, as pessoas e as línguas são aventuras. Ao fazer um trabalho com a EDP durante o mestrado, fui convidado para fazer um estágio em São Paulo. O plano era de 3
meses mas fiquei 5 anos, no Departamento de Estratégia e Organização. É uma cidade de massas em movimento, onde quem quer parar para respirar é facilmente atropelado. No entanto, é uma cidade com várias cidades dentro de si: os Jardins e o Itaim, cheios de restaurantes, bares e botecos de primeiro mundo, com jovens de todo o Brasil (e mundo) de fato e gravata à conversa e ao petisco até altas horas; Vila Madalena e Centro, cheias de cultura e gente diferente, sob um cenário de prédios e boutiques decadentes; Paulista e Faria Lima, a velha e a nova artéria da alta finança, grandes negócios e crimes de colarinho branco.

Cansado de São Paulo, e com os tons de cor-de-rosa a esbaterem-se, pedi as contas e voltei a Coimbra, em busca de um novo destino.

O destino quis que voltasse ao Brasil, desta vez ao Rio de Janeiro, para a divisão de energia de um grupo holandês (SHV). Senti-me em casa, senti-me feliz e senti-me sortudo. Morando agora a 2 minutos a pé da areia
da praia de Ipanema, fui encontrar uma comunidade local de jovens desterrados, originalmente conimbricenses mas com sotaque e atitude carioca. Não demorou até me sentir mais um, com tanto de Portugal como do Rio – combinando sardinhas com caipirinhas e picanha com Super Bock. Para mim, o Rio é como uma Lisboa abandonada, mas onde a praia e os subúrbios estão dentro da cidade, conferindo-lhe uma aura mística, reforçada pelas sucessivas vagas de emigrantes e aventureiros que trazem consigo um pouco de todo o mundo.

Dois anos depois fiz as malas e fui para Bruxelas, para uma outra empresa do grupo SHV. Mais uma vez, foi Coimbra que me acolheu. Eles estão em todo o lado – nas instituições europeias, nas
farmacêuticas, nas consultoras e nos escritórios de advogados.

Adicionei uns pozinhos brasileiros e rapidamente se formou uma comunidade Coimbra-Brasileira, de churrascos, passeios e, sobretudo, de amizade. Em Bruxelas, ser estrangeiro é ser local. 60% da cidade é composta por emigrantes, naturalmente devido às instituições europeias e ao ecossistema que as rodeia. Em Bruxelas, fala-se português, inglês, espanhol, e arranha-se o francês e o italiano, apenas ao almoço. Além disso, não é uma cidade grande, estando a uma viagem de bicicleta de quase todos os pontos de interesse e casas de amigos. Por não ter nenhumas expectativas antes de para lá mudar, fiquei muito espantado e hoje aconselho vivamente a cidade para morar e criar raízes. Continua a não ser excecional como destino turístico.

Outros dois anos volvidos e foi a vez de Amesterdão.

A mudança foi feita durante a pandemia e por isso a integração está em suspenso. Mais uma vez, Coimbra veio em meu auxílio. Voltei a casa dos pais e por aqui estou há 3 meses, a preparar o regresso à Holanda. Os passeios até o Gira Solum, o folar do Afonso, a bica e o fino no São José. As corridas por Celas até ao Parque Verde. 

Gosto de ser português no estrangeiro.

Temos uma vantagem competitiva brutal, ninguém nos inveja mas todos adoram o nosso país, somos latinos mas não preguiçosos, falamos todas as línguas. E, nos lugares onde andei, temos sempre comunidades representativas, o que ajuda na integração e a matar saudades. Não gosto de fazer e desfazer malas, de não ter um lar. Por isso, por agora, o meu lar ainda é Coimbra. Vivo mais Coimbra estando fora de Portugal do que quando regresso. Vejo uma cidade vazia, monótona, principalmente para um jovem de 31 anos como eu. Porém, quando encontro um de nós por esse mundo, são logo as referências ao João de Deus, ao Cartola, ao Dona Maria, e aos amigos em comum. Por isso, levo comigo esse carimbo que tantas portas já me abriu e que me dá uma identidade da qual me orgulho. O que me falta é a família, se a pudesse levar comigo, não voltaria aqui tantas vezes. Os amigos de infância também raramente se encontram por cá. Por isso, Coimbra é, para mim, o Natal, quando os Conimbricenses do mundo se reúnem nesta cidade/aldeia e Coimbra é Brasil, Bruxelas e Portugal, tudo junto. Falta-me diversidade, movimento.

Coimbra tem de atrair mais e enviar menos para fora.

Faltam empresas dinâmicas que mantenham os jovens e que, mais do que oferecer um emprego estável, criem oportunidades de desenvolvimento pessoal e profissional. O caminho é longo. Porém, sei que Coimbra também tem muito para oferecer. Lembro-me de me interrogar porque os meus pais escolheram ficar em Coimbra. Hoje percebo que, para quem está satisfeito com o trabalho e rendimento que tem, e procura construir uma família, Coimbra tem quase tudo: segurança, conveniência, acesso a (alguma) cultura, educação. Coimbra é quase um berço dourado, que te dá tudo para crescer mas pouco te oferece para ficar. É pena.

Hoje moro em Amesterdão.

Aos 17 anos saí de Coimbra e fui estudar Economia na Universidade Nova de Lisboa. Queria abrir horizontes. Os Erasmus (em Roma e em Bergen) mostraram-me que há mais mundo do que Portugal e fiquei viciado na sensação de ser estrangeiro – o novo é, no início, cor-de-rosa, o diferente é uma aprendizagem, as pessoas e as línguas são aventuras. Ao fazer um trabalho com a EDP durante o mestrado, fui convidado para fazer um estágio em São Paulo. O plano era de 3
meses mas fiquei 5 anos, no Departamento de Estratégia e Organização. É uma cidade de massas em movimento, onde quem quer parar para respirar é facilmente atropelado. No entanto, é uma cidade com várias cidades dentro de si: os Jardins e o Itaim, cheios de restaurantes, bares e botecos de primeiro mundo, com jovens de todo o Brasil (e mundo) de fato e gravata à conversa e ao petisco até altas horas; Vila Madalena e Centro, cheias de cultura e gente diferente, sob um cenário de prédios e boutiques decadentes; Paulista e Faria Lima, a velha e a nova artéria da alta finança, grandes negócios e crimes de colarinho branco.

Cansado de São Paulo, e com os tons de cor-de-rosa a esbaterem-se, pedi as contas e voltei a Coimbra, em busca de um novo destino.

O destino quis que voltasse ao Brasil, desta vez ao Rio de Janeiro, para a divisão de energia de um grupo holandês (SHV). Senti-me em casa, senti-me feliz e senti-me sortudo. Morando agora a 2 minutos a pé da areia
da praia de Ipanema, fui encontrar uma comunidade local de jovens desterrados, originalmente conimbricenses mas com sotaque e atitude carioca. Não demorou até me sentir mais um, com tanto de Portugal como do Rio – combinando sardinhas com caipirinhas e picanha com Super Bock. Para mim, o Rio é como uma Lisboa abandonada, mas onde a praia e os subúrbios estão dentro da cidade, conferindo-lhe uma aura mística, reforçada pelas sucessivas vagas de emigrantes e aventureiros que trazem consigo um pouco de todo o mundo.

Dois anos depois fiz as malas e fui para Bruxelas, para uma outra empresa do grupo SHV. Mais uma vez, foi Coimbra que me acolheu. Eles estão em todo o lado – nas instituições europeias, nas
farmacêuticas, nas consultoras e nos escritórios de advogados.

Adicionei uns pozinhos brasileiros e rapidamente se formou uma comunidade Coimbra-Brasileira, de churrascos, passeios e, sobretudo, de amizade. Em Bruxelas, ser estrangeiro é ser local. 60% da cidade é composta por emigrantes, naturalmente devido às instituições europeias e ao ecossistema que as rodeia. Em Bruxelas, fala-se português, inglês, espanhol, e arranha-se o francês e o italiano, apenas ao almoço. Além disso, não é uma cidade grande, estando a uma viagem de bicicleta de quase todos os pontos de interesse e casas de amigos. Por não ter nenhumas expectativas antes de para lá mudar, fiquei muito espantado e hoje aconselho vivamente a cidade para morar e criar raízes. Continua a não ser excecional como destino turístico.

Outros dois anos volvidos e foi a vez de Amesterdão.

A mudança foi feita durante a pandemia e por isso a integração está em suspenso. Mais uma vez, Coimbra veio em meu auxílio. Voltei a casa dos pais e por aqui estou há 3 meses, a preparar o regresso à Holanda. Os passeios até o Gira Solum, o folar do Afonso, a bica e o fino no São José. As corridas por Celas até ao Parque Verde. 

Gosto de ser português no estrangeiro.

Temos uma vantagem competitiva brutal, ninguém nos inveja mas todos adoram o nosso país, somos latinos mas não preguiçosos, falamos todas as línguas. E, nos lugares onde andei, temos sempre comunidades representativas, o que ajuda na integração e a matar saudades. Não gosto de fazer e desfazer malas, de não ter um lar. Por isso, por agora, o meu lar ainda é Coimbra. Vivo mais Coimbra estando fora de Portugal do que quando regresso. Vejo uma cidade vazia, monótona, principalmente para um jovem de 31 anos como eu. Porém, quando encontro um de nós por esse mundo, são logo as referências ao João de Deus, ao Cartola, ao Dona Maria, e aos amigos em comum. Por isso, levo comigo esse carimbo que tantas portas já me abriu e que me dá uma identidade da qual me orgulho. O que me falta é a família, se a pudesse levar comigo, não voltaria aqui tantas vezes. Os amigos de infância também raramente se encontram por cá. Por isso, Coimbra é, para mim, o Natal, quando os Conimbricenses do mundo se reúnem nesta cidade/aldeia e Coimbra é Brasil, Bruxelas e Portugal, tudo junto. Falta-me diversidade, movimento.

Coimbra tem de atrair mais e enviar menos para fora.

Faltam empresas dinâmicas que mantenham os jovens e que, mais do que oferecer um emprego estável, criem oportunidades de desenvolvimento pessoal e profissional. O caminho é longo. Porém, sei que Coimbra também tem muito para oferecer. Lembro-me de me interrogar porque os meus pais escolheram ficar em Coimbra. Hoje percebo que, para quem está satisfeito com o trabalho e rendimento que tem, e procura construir uma família, Coimbra tem quase tudo: segurança, conveniência, acesso a (alguma) cultura, educação. Coimbra é quase um berço dourado, que te dá tudo para crescer mas pouco te oferece para ficar. É pena.

Henrique Marques Lopes

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