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Rede Artéria: mapear municípios e promover debates para apontar soluções na área da cultura

Listar uma série de recomendações políticas e também sugerir medidas de intervenção cultural é a fase final de um processo que teve sua primeira semente lançada ao chão há 10 anos com a indagação: «Qual a importância da criação artística no desenvolvimento dos territórios com seu potencial de intervenção não somente sobre o tecido artístico local e regional, bem como sobre o poder local e a criação de políticas públicas na área de cultura?».

Foi deste questionamento de Isabel Craveiro, diretora d´O Teatrão, que germinou a proposta de estabelecer uma rede de criação, programação e produção de conhecimento nas artes performativas em colaboração com oito municípios da Região Centro. Com coordenação académica do Centro de Estudos Sociais (CES), da Universidade de Coimbra (UC), nascia, assim a Rede Artéria, um projecto de intervenção sociocultural.

O abstrato da indagação começou a tornar-se concreto dois anos depois, em 2014, quando teve início o Mapeamento Artéria, um levantamento dos recursos existentes em oito territórios: Belmonte, Coimbra, Figueira da Foz, Fundão, Guarda, Ourém, Tábua e Viseu. O objetivo era a identificação de sítios estrategicamente resistentes e culturalmente significantes, bem como lugares que podem contribuir, através da intervenção artística e social, para um sentido de identidade, forte e implantado localmente, para todos – moradores e visitantes.

Segundo Isabel, o mapeamento cultural dos municípios, que terminou em 2018, foi muito além de uma listagem de associações e projectos artísticos locais. «Foi uma estratégia de participação que juntou o tecido artístico e associativo, profissional e amador, de diferentes expressões artísticas com o poder local, numa lógica de participação horizontal e com o objetivo de pensar as dinâmicas culturais existentes e as ambições futuras destas comunidades».

Por integrar as dimensões artística, cultural, cívica e académica, a Rede Artéria propõe a todos uma reflexão sobre como a actividade artística pode contribuir para refundar as bases da cidadania, da democracia e da sustentabilidade urbanas. Este caráter multidisciplinar tem como objectivo promover uma ligação próxima entre o conhecimento académico e aquele oriundo da sociedade civil, criando projetos artísticos de intervenção local, geradores de criação cultural e artística, em ligação directa com a formação artística de comunidades diferenciadas.

O resultado do trabalho de investigação-acção foi transformado no livro Rede Artéria – Territórios, Criação Artística, Ciência, apresentado aos parceiros do projeto como artistas, académicos e investigadores e actores políticos. O livro mostra detalhadamente todas as etapas do processo de implementação da rede, incluindo os trabalhos académicos. Finaliza com um conjunto de recomendações em nove áreas temáticas, tanto na esfera cultural como política, destinadas, portanto, a públicos diferenciados. 

No campo de Investimento e Sustentabilidade, a Rede recomenda a implantação de uma plataforma que envolva os actores locais, abertura de concursos regulares de apoio à criação artística, bem como a implementação, por parte dos municípios, de uma agenda de criação artística que favoreça parcerias com outros sectores. Recomenda-se ainda abertura de concurso de apoio para a criação artística em rede, de carácter comunitário e em territórios de baixa densidade. 

No que diz respeito à relação com o património e o espaço público, recomenda-se formação e capacitação no conhecimento do património cultural e material dos lugares e também a criação de linhas de apoio e incentivo ao desenvolvimento de projectos inovadores para o mapeamento cultural em cada território. Na área de comunidade e acção colaborativa, sugere-se a criação de um plano de trabalho que identifique uma rede de colaboradores e agentes locais para definir iniciativas de programação cultural específicas freguesias e bairros.

A Rede Artéria recomenda ainda a estruturação de um plano de acção local que seja paradigmático no trabalho entre associações culturais, actores, instituições de ensino superior e autarquias. Também deve caber ao poder público a criação de programas de formação em produção artística nos municípios. Formação foi também enfatizada na área de comunicação e disseminação: capacitação, para agentes culturais, em estratégias de comunicação e divulgação de projectos culturais e artísticos.

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