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Sábado foi dia de Oficina de Soluções para sonhar a cidade de olhos abertos

Último sábado do Verão de 2022, dia 17 de Setembro. Cinco jovens residentes em Coimbra e de diversos backgrounds foram orientados por um especialista em urbanismo, ordenamento do território e transportes num passeio onde aprofundaram os olhares e ampliaram as suas perspectivas, pensando como seria a Coimbra ideal. Orientação que foi dada antes do início de uma caminhada de aproximadamente 2,5 quilómetros a partir do final da ciclovia da Portela, na intersecção entre a Rua Quinta da Portela e ao longo da Estrada da Beira.

No arranque da Semana Europeia da Mobilidade, o grupo respondeu ao desafio da Coimbra Coolectiva para fazer um passeio e apontar situações que impactam negativamente nas propostas mundiais de mobilidade sustentável. Mas como se tratava de uma Oficina de Soluções, também saíram ideias de respostas para que a cidade seja mais amigável, sustentável, segura e descarbonizada.

Durante muito tempo, a Estrada da Beira era a única via de saída de Coimbra, antes da construção da circular, que fica somente a cerca de 200 metros de distância dali. No entanto, continua a ser utilizada como saída, «tornou-se um bypass da Circular», o que causa problemas, especialmente alta velocidade dos carros, como apontou o professor da Universidade de Coimbra e investigador de smart/livable cities, o engenheiro João Bigotte. Segundo ele, a melhor maneira de diminuir a velocidade de veículos, é diminuir o espaço que ocupam, levando-os a perderem o protagonismo no sistema de transporte que se quer sustentável.

Ao longo do percurso, e num dia de muito calor, notaram-se alguns problemas como a falta de sombras e os passeios estreitos ou ocupados com contentores do lixo. Algumas soluções que vão sendo apontadas são a redução do espaço ocupado pelos automóveis, abrir novas ciclovias e ampliar as poucas existentes naquela área, criar estacionamentos para bicicletas e trotinetes, aumentar o número de passadeiras e uniformizar a largura dos passeios, que em muitos casos é bastante reduzida em razão do mobiliário urbano, o que dificulta o acesso dos peões, especialmente daqueles com mobilidade condicionada, além de colocar assentos e cobertura nas paragens de autocarros.



Ao longo do percurso, o professor informou que a Quinta da Portela é a zona com a maior densidade populacional, que é maioritariamente formada por jovens. No entanto, não dispõe de uma escola. Há duas, mas em zonas distintas: Vale das Flores e Casa Branca. Na prática, significa
que esta parcela da juventude ou caminha até à escola, usando passeios que não privilegiam a
segurança e o bem-estar dos peões, ou vai de automóvel com seus pais, responsáveis.
Com a criação e ampliação de ciclovias, os estudantes poderiam usar bicicletas ou trotinetes para se deslocarem entre as suas moradas e as escolas, o que traria imensos benefícios individuais e coletivos, e no curto e no longo prazos, como ressaltou o professor.

Como escolas são locais de formação por excelência, sendo-lhes dado incentivo e condições apropriadas para o uso de transportes não-poluentes, os jovens desenvolveriam uma nova perspetiva de mundo, uma nova compreensão sobre comunidade e ainda tornar-se-iam mais autónomos e independentes – sem falar dos benefícios para a saúde física.

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Ao longo dos 90 minutos de caminhada ficou evidente para os participantes que aquela faixa
da Quinta da Portela tem as condições ideais para tornar-se um living lab, por ser uma área
plana, com bastante espaço físico para ganhar novas utilizações e ainda promoveria o espírito
comunitário.
A Rede Europeia de Living Labs (ENOLL) define os mesmos como «ecossistemas de
inovação aberta centrados no usuário baseados em uma abordagem sistemática de cocriação de usuários, integrando processos de pesquisa e inovação em comunidades reais e configurações».

De acordo com o professor João Bigotte, existem boas práticas de «caminhabilidade», mas não
há regulamentação para que sejam implementadas, o que é feito somente através do Plano Director Municipal (PDM), instrumento que regula o ordenamento territorial, mas que precisa de revisão, pois é muito antigo. «Há regras sobre espaços púbicos, mas não há nada sobre a qualidade destes espaços».

Resultados entregues à autarquia

No fim da caminhada, Lourenço, Mariana, Miguel, Antónia e Carlos, os protagonistas desta Oficina de Soluções que pôs a Coimbra Coolectiva na programação da convite da Semana Europeia da Mobilidade, a convite da Câmara Municipal de Coimbra, já tinham em suas mentes a Coimbra que desejam e que já é possível agora com a colaboração de todos. Depois do exercício de cidadania activa na manhã, a tarde ficou reservada para a prática da democracia participativa.

Os pilares da Coimbra inclusiva e sustentável que os cinco jovens imaginaram foram apresentados à vereadora Ana Bastos. A exposição aconteceu precisamente no meio da Rua Sofia, que ficou fechado ao transporte rodoviário até o início da noite de sábado, dia 17 de Setembro, para marcar o início da Semana Europeia de Mobilidade.

– Desfavorecer o transporte rodoviário e priorizar o pedonal;
– Uniformizar a largura dos passeios – e por extensão reduzir a largura da estrada;
– Criar espaços de estacionamento para bicicletas e trotinetes;
– Criar novas rotas de ciclovias e melhorar as existentes;
– Aumentar o número de passadeiras;
– Melhorar a ligação entre o Vale das Flores e a Casa Branca;
– Criar espaços verdes para ter sombreamento;
– Instalar bebedouros;
– Rever o Plano Director Municipal, para que seja um instrumento mais humano e amigável dos peões;
– Estimular o uso de bicicleta entre os estudantes.

Estas foram as soluções apontadas para os problemas encontrados naquela área da Quinta da Portela.
A vereadora da Câmara Municipal de Coimbra com o pelouro da mobilidade ouviu atentamente as propostas. Ana Bastos disse que concorda com todas as soluções apontadas, por ser uma engenheira vocacionada para a mobilidade sustentável, e informou que já existe um projeto de requalificação da Estrada da Beira mas que não conhece ainda em profundidade, e ressaltou que é preciso avaliar o impacto que tal acção causará nos bairros próximos.

Em relação a ciclovias, Ana Bastos afirmou que actualmente há 14 quilómetros delas, mas que foram criadas a partir da óptica do desporto e é necessário, portanto, alargar esta perspetiva para que sejam vias de acesso mais inclusivas e que contemplem outros públicos, inclusive crianças. A vereadora informou que a última revisão do PDM foi feita em 2014 – a legislação determina que os Planos devem ser revistos antes de decorrido o prazo de 10 anos a contar da data da sua entrada em vigor. Salientou, contudo, que a Câmara Municipal já está a fazer trabalhos preparatórios para que tenha uma expressiva participação popular.



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