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Reportagem: Há vozes femininas à solta no novo Coro das Mulheres da Fábrica

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Coro das Mulheres da Fábrica

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Concerto do Coro das Mulheres da Fábrica

Coro das Mulheres da Fábrica «tem sido um espaço de cura para todos»

Das 25 que responderam ao desafio e apareceram nos primeiros ensaios em Outubro, captadas pela lente do realizador Tiago Pereira, já são 70 as cantadeiras de Coimbra e vão dar o primeiro concerto oficial na cidade.

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Fotografia: Colectivo Serpins/A Música Portuguesa a Gostar Dela Própria, Mário Canelas

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Reportagem: Há vozes femininas à solta no novo Coro das Mulheres da Fábrica

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Concerto do Coro das Mulheres da Fábrica

Em Novembro, batemos à porta do Atelier A Fábrica, assim que soubemos do Coro das Mulheres que a cantora e criadora Vânia Couto estava a formar. Eram «25 mulheres, três estrangeiras e de faixas etárias tão diversas quanto seus backgrounds». Quase meio ano e muitas sessões à quarta-feira à noite depois, são 70 os elementos deste projecto cool de Coimbra e o colectivo cresceu em vários aspectos, inclusive diversidade. «Temos mais imigrantes, mais pessoas dos setentas e oitentas e temos também agora crianças e adolescentes», conta Vânia Couto. 

A fundadora da associação Catrapum Catrapeia e do Festival Género ao Centro fez uma única publicação de recrutamento no Facebook. «Eu pensei que iam aparecer umas seis ou sete pessoas, porque não é assim tanta gente que vem ter comigo», mas não foi isso que aconteceu. «A verdade é que no dia a seguir, quando abri o Facebook, tinha mais de 20 e tal partilhas e não sei quantas mensagens, foi uma coisa que eu não estava à espera». Uma dessas mensagens era de Tiago Pereira, realizador e fundador da associação A Música Portuguesa a Gostar Dela Própria, que, fascinado com a ideia, disse a Vânia: «Eu tenho de vos gravar e tem de ser já».

O Coro não tinha canções quando Tiago contactou, mas assim que teve, o Colectivo Serpins gravou-o, a 18 de Janeiro. Este é o resultado:

Vânia Couto diz que o filme, publicado no Vimeo – onde conta já quase duas mil vizualizações – e partilhado nas redes sociais ajudou o projecto a «emancipar-se». «Teve imensas visualizações, o que também ajudou muito a que tivéssemos este saltinho de termos mais convites», confidencia a criadora do Coro das Mulheres da Fábrica. Para Tiago Pereira era mesmo esse o objetivo. «Era importante gravar uma música, aquilo era um projeto no início e isso de certa forma ia ser um incentivo para que fosse maior, e aconteceu.»

Desenrola o teu Cabelo é uma cantiga tradicional de Silvares, Aldeias de Xisto, Região Centro de Portugal. Vânia recorda o momento da filmagem de forma emocionante. «Foi um maravilhoso, foi um grande empoderamento feminino, que é o que se tem sentido muito neste coro por várias mulheres.» Tiago completa, ao telefone, que «é importante que haja cada vez mais estes coros, em que as pessoas se juntam para cantar porque sim». O realizador considera que o facto de ser gratuito ajuda, funcionando como espaço de partilha de onde «as pessoas saem com uma experiência bastante satisfatória».

Apesar de já existirem coros deste género noutras cidades, o criador d’A Música Portuguesa a Gostar Dela Própria, projecto que se dedica a documentar, valorizar e divulgar processos, práticas musicais e manifestações de cultura popular acredita que Coimbra também precisava de algo assim. «Faltava que acontecesse isso em sítios como Coimbra e o facto de ter tido aderência de tantas pessoas fez com que agora muita gente queira.»

Foto: Coro da Cura por A Música Portuguesa a Gostar dela Própria

Tiago admite que o Coro das Mulheres da Fábrica serviu de impulso para a criação do Coro da Cura, constituído por mulheres de Serpins e algumas da Lousã e dirigido também por Vânia Couto. Reúne-se quinzenalmente, às terças-feiras. Cura é o nome dado ao espaço físico da associação A Música Portuguesa a Gostar Dela Própria recém-inaugurado no concelho da Lousã. «Às vezes é difícil as pessoas virem de Coimbra e o Coro da Fábrica neste momento também não aceita mais pessoas. Aqui, em Serpins, as pessoas vêm, não têm de saber cantar e, para elas, isto é mais uma cura. Por isso é que às vezes nós dizemos que é o coro da cura ou a cura do coro.»

Fora da Fábrica

O Coro das Mulheres da Fábrica já tem concertos agendados para este ano e não faltam outros convites. A primeira apresentação é no dia 19 de abril, no Centro Cultural Penedo da Saudade, e inclui «um momento interativo com o público». Está integrado nas comemorações do 25 de abril. No dia 24 de junho, apresentam-se na Festa da Lusofonia. Em Dezembro, participam nas comemorações centenárias da Biblioteca Municipal de Coimbra.

Fora dos palcos, «tivemos uma proposta de uma realizadora de cinema da Madeira», adianta Vânia Couto. «Fomos convidadas a musicar uma parte de um filme. Ela inclusive fez a letra da canção, portanto vamos construir uma das primeiras, que nós lhes chamamos as novas canções populares», continua. O Coro também foi convidado para se associar ao Canto a Vozes – Fala de Mulheres, uma associação de centenas de cantadeiras de todo o país formalizada em 2020.  Na sequência desse convite, o grupo foi convidado para participar na nova rubrica semanal Vozes ao Alto – Fala de Mulheres, na Antena 2.

No primeiro fim de semana de abril, o Coro das Mulheres juntamente com as CRUA – Profissionais de música de Adufes, que também pertencem ao coro, promoveu duas oficinas: construção de adufes e percussão, ambas lotadas. Segundo Vânia Couto, foram um sucesso. Eram abertas à população em geral, mas «principalmente para as mulheres do Coro da Fábrica para terem um objeto que é um instrumento muito especial na música tradicional e que está associado à mulher».

As CRUA são Liliana Abreu, Bárbara Trabulo e Rita Só. «A Bárbara constrói adufes e aproveitamos o potencial do grupo e o que aqui existe», sublinha Vânia Couto. «Dar-lhes trabalho, empoderamento e poderem efetivamente mostrar aquilo que têm» são objectivos do colectivo que para as oficinas contou com a parceria do Grupo de Etnografia e Folclore da Academia de Coimbra (GEFAC) e da própria Catrapum Catrapeia.

A parte da cura

«Neste tempo tem sido um espaço de cura para todos, inclusive para mim», confessa Vânia Couto, que assegura que tem recebido reações muito positivas das participantes do Coro das Mulheres da Fábrica. «Não te consigo dizer a quantidade de pessoas que veio ter comigo, individualmente, para me dizer que de Outubro até agora, em termos pessoais, o quanto o coro lhes tem feito bem.» 

A fundadora explica que o coletivo tem ajudado mulheres, nas mais diversas situações, como as que foram mães durante a pandemia e acabaram por se sentir isoladas. «Ganharam uma força muito grande, ganharam amigas, sentem que têm espaço para poder fazer o que querem.» O mesmo para as imigrantes. «São mulheres que se sentiam isoladas ou com poucos amigos, que não tinham rede e que no coro encontraram uma rede, onde a sua multiculturalidade é respeitada.»

Também muitas participantes que achavam que não cantavam bem, ganharam espaço no Coro para serem elas mesmas. «Há mulheres que disseram que não cantavam bem ou que nunca cantaram [e que agora são] solistas», e isso, de acordo com a dinamizadora que ensaia as dezenas de voluntárias, faz com que elas ganhem autoestima e se evidenciem através do canto. «Tem sido muito interessante ter essas partilhas todas e essa cumplicidade muito grande.» A comunicação social tem ajudado. «Tem aparecido muita gente com muita curiosidade de nos conhecer, nós até nos sentimos um bocadinho estranhas porque sentimos que não temos muito para mostrar, mas acho que a nossa cumplicidade e aquilo que se mostra quando estamos a cantar e a nossa força efetivamente acaba por atrair.»

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Assistimos à estreia da iniciativa da associação de promoção de educação pela arte para crianças e adultos Catrapum Catrapeia, que é uma celebração de liberdade e diversidade e tem Vânia Couto na proa.

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