Contribuir small-arrow
Voltar à home
Contactem

Saibam como ajudar

Entreguem

Todo o bem é precioso

Потрібні волонтери

вільно володіють українською та португальською мовами

Voluntariem-se

Toda o apoio é bem-vindo

Coimbra Ucraniana | Українська Коїмбра

Abriram-nos as portas da comunidade local e além de conhecê-la ficámos a saber o que pensa, o que sente e do que necessita.

Partilha

Fotografia: Filipa Queiroz

Contactem

Saibam como ajudar

Entreguem

Todo o bem é precioso

Потрібні волонтери

вільно володіють українською та португальською мовами

Voluntariem-se

Toda o apoio é bem-vindo

Olena Petryk dita algumas ordens para o grupo ucraniano que se reúne todos os Domingos na pequena capela do Loreto, periferia Norte de Coimbra. Condimenta o português com ucraniano, num pragmatismo bilingue recolhido numa década e meia de trabalho ao balcão de um café em Eiras, acumulando histórias e lutas da primeira geração da imigração ucraniana em Portugal. À sombra de Olena, que partilha o nome com a primeira-dama ucraniana, agita-se o pequeno Alex, representante da terceira geração de ucranianos, que brinca alheio aos actuais anseios e preocupações da comunidade. De dentro do templo ecoa a celebração em ucraniano, ouvem-se orações e a envolvente repousa em paz.

Bem integrados em Portugal desde que começaram a chegar no final da década de 90, os ucranianos chegaram a ser a primeira comunidade estrangeira em número, tendo decaído para quinta, pelos números oficiais mais recentes. O que a estatística não revela é que a segunda e terceira geração não são apenas ucranianos, são luso-ucranianos, são portugueses, gente de ascendência ucraniana em que se equilibram as duas nacionalidades. Seja qual for o distanciamento temporal (e geográfico) com a Pátria dos pais e dos avós, os laços familiares e culturais mantêm-se, alimentados pela língua, pelos costumes e nas mercearias e templos que a comunidade tem em Coimbra.

A comunidade ucraniana religiosa usa dois templos em Coimbra. Cerca de trinta fiéis reúnem-se na Capela da Nossa Senhora da Guia, no Loreto, ao Norte da cidade. Outros tantos fiéis reúnem-se todos os Domingos na Capela de Santo António da Portela, na zona Leste da cidade. Aqueles são católicos, estes ortodoxos e, se a fé difere no rito, são mais as semelhanças do que as diferenças. Alguns circulam mesmo pelos dois templos, sem diferenciar.


O templo do Loreto é utilizado pela comunidade da Igreja Greco-Católica Ucraniana, assessorada por três padres que se vão revezando nas celebrações e no acompanhamento da comunidade dispersa por Coimbra, além de Pombal, Fátima, Leiria, Santarém e Rio Maior. São eles os padres Silvio Litvinczuk, Gabriel Timchyk e Bento. Nossa Senhora da Guia é uma dedicação acertada para o momento, dado que é a padroeira dos navegantes. Aqui se guiam as pessoas para um local seguro, afastando-as do mal.

Olena chegou há algumas horas da Polónia. Foi buscar Nadia, a sua mãe. A babusya (avózinha) da família, acrescenta ternamente. «Estão a chegar muitas pessoas agora, cada vez mais. Vêm de todas as maneiras, alguns de carrinha, outros de autocarro. Nós arrancámos para a Polónia depois de estar alguns minutos numa vigília em Coimbra e seguimos logo para lá». As pessoas aconchegam-se dentro do pequeno templo. Têm vivido os últimos dias colados aos canais de notícias ou em contacto permanente com os familiares ainda na Ucrânia. Toda a informação é preciosa – e alarmante.


Oksana, cuja família ainda está na Ucrânia, comenta: «Foi tudo repentino, ninguém estava preparado para isto e, no fundo, não pensávamos que chegasse a este ponto. Nos territórios junto à fronteira com a Rússia, fala-se russo. Somos todos irmãos, há famílias com russos e ucranianos. A nível espiritual a igreja ajuda, encontramos conforto em Deus». O grupo irrompe espontaneamente a entoar «uma canção triste, dedicada aos mortos», traduz Oksana. A canção chama-se Ой, полечко-поле / Oh, pequeno campo, uma canção tradicional ucraniana, que começa assim: «Oh, pequeno campo, campo rasgado de balas / E naquele campo dois cossacos foram mortos (…)». E segue, acrescentando outra camada emocional a toda a cena.

Todos têm ainda família na Ucrânia, são várias as histórias de fuga, de trauma, de desespero, e também de esperança. A família de Oksana está «mais próxima da Polónia, estão mais tranquilos, mas ninguém sabe o que vai na cabeça do homem. Eles têm uma cave já com água, cobertores, etc. Assim que ouvirem as sirenes, escondem-se». A irmã de Oksana não quer ainda deixar o país. Os familiares de Andriana e de Maria também não. Nadia deixou o marido e o pai de Olena ficou para trás, a cozinhar para os militares. Para aqueles que ficam a resistir, há outros tantos que estão para chegar a Portugal, já em trânsito ou à espera de transporte. E há outros que viajam no sentido oposto, para ir combater.

Olena conta: «Apanhámos no caminho uma carrinha enorme cheia de rapazes que iam combater, fomos com eles até à Polónia. Apenas um estava cá há pouco tempo, os restantes têm já família em Portugal. É complicado ir assim para o Inferno». Maria Rizun está mais preocupada com a situação volátil de muitos dos seus familiares. Alguns vivem perto da Bielorrússia, outros em Mykolaiv, um dos alvos mais recentes de bombardeamentos. Irrompe em lágrimas enquanto conta que gostava de ir ajudar a família na Ucrânia mas não pode, por causa dos filhos pequenos. «Temos que acreditar que isto passe o mais rápido possível, isto não pode ser assim. Os meus primos estão todos a combater. A minha família está a receber refugiados de outras zonas da Ucrânia, que lhes chegam diariamente. E falta muita coisa na fronteira com a Roménia, porque há uma grande concentração [de bens] na fronteira com a Polónia. É preciso muito apoio para esse lado. O povo português ajuda muito, isso é que é importante».

«Por cá», continua Olena, «as pessoas juntam-se para carregar um camião que no dia seguinte vai para a Polónia distribuir mantimentos. Ao chegar dividem-se por pequenas carrinhas que distribuem pela Ucrânia. A comunidade está mais próxima, mais unida». Têm-se revezado em vigílias, em contactos, em reunir bens, o que compensa parte da ansiedade com os familiares ainda na Ucrânia. Os primeiros refugiados chegados a Portugal são aqueles que já aqui têm família, mas virão outros, sem quaisquer laços familiares e que precisam de rede de apoio. O padre Gabriel, cuja família está mais próxima da Hungria, diz que «os refugiados precisam de sítios para ficar, de mantimentos para um mês ou dois e também de trabalho. É sempre preciso aqui algum voluntário que deixe a sua casa aberta para receber pessoas; um quarto ou dois quartos para acolher pessoas. Todos estamos preocupados, eu também estou, é o nosso país, a nossa gente».

O padre Ivan Buhakov, da Igreja Ortodoxa Ucraniana do Patriarcado de Constantinopla, está há seis anos na capela da Portela, desde que para aqui vieram da capela de São Sebastião. O pequeno templo à entrada Nascente de Coimbra está repleto de iconografia cristã e, por estes dias, de muitos sacos e caixas com dádivas. Nas traseiras da capela enche-se uma carrinha que partirá daí a umas horas para a Polónia. Uma mãe e três crianças pequenas, chegadas da Ucrânia apenas há umas horas, escolhem alguns objectos, contornando vergonhas. Vasto e sorridente, o padre Ivan comunica com as crianças, dizendo-lhes que têm que ir à escola, aprender o abecedário. E as crianças, caras inocentes onde se desenha um sorriso tímido, levam uma bola e uma bicicleta. «Vieram apenas com a roupa que têm», a mãe agradece e desdobra-se em vénias.

O corrupio de voluntários é constante. Como diz o padre Ivan: «Hoje vão três médicos portugueses, na semana passada foram outros três, dois portugueses e um ucraniano. Estão aqui preparados kits de socorro para esta gente que vai para a guerra, com saco-cama, meias grossas, álcool… Tudo voluntários para enviar para um hospital de campanha na fronteira com a Polónia». À porta, surgem três portugueses dispostos a levar três grandes carrinhas, completamente pagas por si, para ir descarregar bens e trazer refugiados. Logo ali se trabalham os detalhes e se combinam as coisas. E a azáfama nas traseiras continua, bem vai, bem vem. Numa iniciativa que surgiu por intermédio de outros elementos da comunidade ucraniana e algumas instituições da cidade, como a Câmara Municipal de Coimbra e a União de Freguesias de Coimbra, criou-se uma mercearia e um bazar solidários no Mercado do Calhabé, operacionais a partir de 14 de Março.


Artem e Viktoriya, assim como Svetlana e Olena, são alguns elementos da comunidade ucraniana envolvidos na organização deste centro de recepção de refugiados da Ucrânia. Os irmãos de Artem estão todos em combate. «Por pouco não fui também, foi a família que me dissuadiu», diz um deles. Alguns ucranianos de Coimbra com experiência militar já partiram para combater a invasão. Uma mulher recém-chegada, a primeira a usar a mercearia solidária, escolhe comida para o seu bebé: fórmula e papa. Viktoriya irá partir daqui a umas horas para ir buscar outra família de refugiados. Todas as vontades confluem, toda a solidariedade é necessária.

O padre Ivan já fala em reconstrução, em voltar e em reconstruir a Ucrânia. É uma palavra que parece distante, com tudo aquilo que salta dos ecrãs. Olena pede paz «para nós, para todos». Distante de tudo aquilo que preocupa os adultos, Alex brinca com uma bandeira da Ucrânia, sereno e feliz, percorrendo a paisagem com os olhos.

Mais Histórias

São restaurantes e servem trabalho a quem vive nas ruas

Em cinco anos e com uma pandemia pelo meio, a associação Crescer multiplicou para cinco o número de restaurantes e espaços que integram pessoas em situação de sem abrigo no mercado de trabalho – depois de aprenderem a cozinhar e a servir à mesa com grandes nomes da indústria.

quote-icon
Ler mais small-arrow

Há mais 500 pessoas a dar o nome pela «Bienal no Mosteiro»

Com a inauguração da quinta-edição da Anozero e os avanços no projecto de transformação do Mosteiro de Santa Clara num hotel, alarga-se também o movimento de cidadãos que pede ao Governo para recuar na decisão de tirar à bienal o seu principal palco.

quote-icon
Ler mais small-arrow

Jovens do TUMO pedem de novo a palavra para «escrever o futuro»

55 anos depois, o corajoso ato de um estudante de Coimbra que pediu a palavra quando falar era proibido continua a inspirar jovens alunos a manifestarem-se. O resultado é uma exposição em parceria com a Anozero, onde arte e tecnologia se fundem para manter a chama da liberdade acesa.

quote-icon
Ler mais small-arrow
Contribuir small-arrow

Discover more from Coimbra Coolectiva

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading