Contribuir small-arrow
Voltar à home
VISITEM

Exposição «Peço a Palavra!»

ASSISTAM

Estreia «Coimbra é intervenção»

APOIEM

0,5‰ IRS PARA O TUMO

Jovens do TUMO pedem de novo a palavra para «escrever o futuro»

55 anos depois, o corajoso ato de um estudante de Coimbra que pediu a palavra quando falar era proibido continua a inspirar jovens alunos a manifestarem-se. O resultado é uma exposição em parceria com a Anozero, onde arte e tecnologia se fundem para manter a chama da liberdade acesa.

Partilha

Fotografia: Mário Canelas

VISITEM

Exposição «Peço a Palavra!»

ASSISTAM

Estreia «Coimbra é intervenção»

APOIEM

0,5‰ IRS PARA O TUMO

Vera Simões, de 15 anos, não precisou de pedir a palavra. Foi-lhe dada. É uma das jovens que está a participar na exposição «Peço a Palavra!», integrada no programa convergente da Anozero´24 – Bienal de Arte Contemporânea de Coimbra, em parceria com o TUMO. A partir do célebre momento em que, em pleno Estado Novo, a 17 de Abril de 1969, o então presidente da Associação Académica da Universidade de Coimbra, Alberto Martins pediu para falar em nome dos estudantes lançando a crise académica e, com ela, as primeiras sementes da Revolução dos Cravos, a iniciativa quer dar palco às vozes e reivindicações dos estudantes de hoje, cruzando a arte com a tecnologia e a história da cidade.

A poucos dias da inauguração, marcada para 24 de Abril, Vera Simões conta-nos que está a utilizar as linguagens do cinema, da animação e da fotografia para «chamar a atenção para muitas coisas que devem ser mudadas». Dá como exemplo «a desvalorização dos professores, que se reflete no ensino e no futuro do país», dando conta das «muitas pessoas que vão embora, pois sentem que não têm oportunidades aqui». 

«Quis participar [da exposição] porque é importante nós, jovens, darmos a nossa palavra», acrescenta Madalena Jaleco, de 17 anos. «Somos nós que vamos ficar cá. Queremos fazer o nosso futuro e não ter um futuro decido por pessoas que não vão cá estar». 55 anos depois, sente-se inspirada pelo «ato de rebelião» de Alberto Martins. «No fundo, foi ele a dizer: ‘Eu quero decidir o meu futuro. Eu quero escrever o meu futuro’. Liberdade, para mim, é escolher fazer ou não fazer», partilha.

Mais do que tornar-se protagonista do seu próprio futuro, o que Martim Melo, também com 17 anos, almeja é que pessoas de todas as idades em Coimbra assumam também um papel principal na vida do país e até do mundo. «Pertencemos a uma comunidade. Temos de nos lembrar que nós podemos escolher. Nós podemos mudar as coisas se tivermos esta vontade», defende. Para lá chegarmos, entende, é necessário reforçar a educação cidadã nas escolas.

Os ecos da revolução

«Há um eco evidente entre o princípio fundador do TUMO, que é colocar os alunos no centro das decisões, e o contributo dos alunos que, a partir de 1969, reclamam por um país, uma universidade e um ensino mais justos e reivindicam também um papel de ator e não de espectador para que possam ter o futuro nas suas próprias mãos», observa Carlos Antunes, director da Anozero. A ligação da bienal ao centro de tecnologias criativas, no ano em que se comemoram os 50 anos do 25 de Abril é, reforça, quase «óbvia» – tanto que Rita Neves, head of community do TUMO, não consegue precisar o momento em que surgiu a ideia.

«Temos algo maravilhoso, que é o ‘Peço a Palavra’, que aconteceu cá, com uma pessoa de cá, que consegue mostrar aos jovens que eles têm este poder, que é preciso coragem para usufruir e para usar a nossa liberdade em pleno», destaca.  O TUMO conta com mais de 900 estudantes e Rita estima que cerca de 200 estão envolvidos, em maior ou menor grau, contando com mentoria da equipa educativa, que soma cerca de 25 pessoas.  

A diretriz passada aos alunos é que expressem o que os preocupa e que «percebam que se podem manifestar, usando um cartaz ou uma música de intervenção, como quiserem». Durante este mês, ilustra Rita, foram trabalhados vários projectos, nas áreas de animação, de cinema, de música e escrita, havendo até um jogo relacionado com a liberdade.

A iniciativa procura cruzar estas novas formas de expressão com as revindicações estudantis antes do 25 de Abril e faixas erguidas na crise académica de 1969, muitas preservadas na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra.  «Conseguimos ter acesso a uma série de tarjas muito fortes, usadas para reivindicar a democratização do ensino e contra o silenciamento. Era importante os nossos jovens conhecerem estas tarjas. Não como uma coisa do passado, mas sim, numa interseção com o presente e o futuro. Estas tarjas podem dar a inspiração que os nossos jovens precisam», antecipa Rita.

A ponte entre passado, presente e futuro está a ser feita no TUMO desde o início de abril, quando começaram as conversas entre os alunos, os learning coaches e os workshop leaders. Alguns exemplos: o presidente da Associação Académica de Coimbra, Renato Daniel, foi convidado a mostrar que luta continua; Vânia Couto falou sobre o poder da música, em particular, da música de intervenção; e Joana Martins, do movimento de cidadãos Eu Também, mostrou que «pedir para melhorar o bairro é também pedir a palavra».

Maria Vieira e Mariana Amado são duas das learning coaches que estão a trabalhar com os alunos. Maria diz que, como o tema é liberdade, os alunos são mais recetivos e conta que até vê os olhos dos jovens brilharem. São «uma inspiração». É com ela que Madalena, de quem falamos no início do artigo, está a trabalhar na produção de um poema, que será mostrado na exposição.

Um cravo a florir

Conhecemos ainda Edu Eloi França, que está a fazer um vídeo que mostra Coimbra desde a década de 1950 até à cidade que é hoje, em modo time lapse: são 30 fotos de diferentes sítios, num projecto que conta com a mentoria do workshop leader de cinema, Calika. Já Mateus Martins, de 13 anos, está a preparar uma atividade de animação, a partir de um desenho que fez. «Eu sabia tinha havido uma revolução, mas não sabia que o 25 de abril era também o Dia da Liberdade», admite.

Para estimular a participação dos alunos mais tímidos, foram colocadas três urnas à entrada do TUMO, cada uma contendo uma pergunta:  «O que te preocupa nos dias de hoje?», «Que causa/assunto te levaria a manifestar-te nas ruas?», e «Como podemos construir um futuro justo e sustentável?». As respostas são escritas em pedaços de papel verdes e vermelhos, que serão transformados em um gigantesco cravo, que fará parte da exposição.  

No dia 17 de abril, depois de inaugurar um mural em sua homenagem promovido pela Associação Académica de Coimbra, assinalando os 55 anos da Crise Académica de 1969 e inserido nas Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril de 1974, Alberto Martins esteve no TUMO a falou com os jovens alunos. As imagens em cima falam por si.

A exposição «Peço a Palavra» que está instalada no 1.º piso do TUMO, e cujo acesso é feito através de um torreão construído propositadamente para o efeito, inaugura dia 24 de abril, pelas 19h. Pode ser visitada até 20 de maio, às segundas, quartas e quintas-feiras entre as 15h e as 20h, ou às terças e sextas das 15h às 18h. Também aos sábados das 9h30 às 16h. A entrada é livre.

A Coimbra Coolectiva vai fazer parte do momento de inauguração. Estreamos o nosso primeiro documentário «Coimbra É Intervenção», da autoria de Filipa Queiroz e Tiago Cerveira. É às 19h, a entrada é livre e conta com a presença dos protagonistas.

Gostaram do que leram?
E repararam que não temos publicidade?

Para fazermos este trabalho e o disponibilizarmos de forma gratuita as leituras e partilhas são importantes e motivantes, mas o vosso apoio financeiro é essencial. Da mesma forma que compram um lanche ou um bilhete para um espectáculo, contribuam regularmente. Só assim conseguimos alcançar a nossa sustentabilidade financeira. Vejam aqui como fazer e ajudem-nos a continuar a fazer as perguntas necessárias, descobrir as histórias que interessam e dar-vos a informação útil que afine o olhar sobre Coimbra e envolva nos assuntos da comunidade.

Contamos convosco.

Mais Histórias

Sábado há novos edifícios icónicos de Coimbra para conhecer por dentro

De moradias privadas nunca abertas ao público aos cantos menos frequentados do património classificado – são 16 os espaços emblemáticos da cidade que podem conhecer este sábado, com visitas gratuitas, guiadas por voluntários, arquitectos e investigadores. Está de volta o Casa Adentro.

quote-icon
Ler mais small-arrow

Coisas para Fazer em Coimbra

A chuva até pode ser a desculpa perfeita para irem assistir à estreia do novo espectáculo da Escola da Noite, à Festa do Cinema Italiano, exposições, concertos e outras propostas na Agenda esta semana. Domingo é dia da Mãe e de Kidical Mass.

quote-icon
Ler mais small-arrow

Qual é a vossa arte urbana?

Digam-nos de qual gostam, dir-vos-emos quem são. Fizemos um roteiro das manifestações de arte urbana nas paredes desta cidade que há 900 anos expõem intervenção e liberdade.

quote-icon
Ler mais small-arrow
Contribuir small-arrow

Discover more from Coimbra Coolectiva

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading