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Digam-nos de qual gostam, dir-vos-emos quem são. Fizemos um roteiro das manifestações de arte urbana nas paredes desta cidade que há 900 anos expõem intervenção e liberdade.

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Fotografia: Coimbra Streetart e outros

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«Peço a palavra!», clama Alberto Martins no mais recente mural de Coimbra, criado por c’marie e egrito para a Associação Académica de Coimbra – Constança Bettencourt e João Margarido, respectivamente. Segundo a artista, o mural (na imagem em cima) «representa tanto a Crise Académica de 1969, como a Revolução de 25 de Abril de 1974, dois movimentos tão importantes na história portuguesa, que assentam na mesma base estrutural: o direito à expressão e à liberdade». Realizar este mural, contam, «foi contar a história de um passado tão próximo, mas que parece esquecido».

Em Coimbra há uma longa tradição de murais com homenagens e inscrições que manifestam as inquietações das suas diversas tribos urbanas, em camadas sobre camadas de contestação quanto às preocupações do momento, sejam questões feministas, ambientais, de racismo, entre outros temas que também reflectem a diversidade da cidade. Ainda que pareça escassa a arte urbana em registo mural de autor de grande dimensão, sobretudo quando comparada com outros núcleos urbanos, há na verdade aqui muitas paredes falantes. Uma parede com palavras e pinturas murais pode ser uma arma, assim como a demanda pelo belo na paisagem urbana se pode tornar um gesto político.

A parede é uma arma

Há uma inscrição em árabe na lateral da Sé Velha, feita no Séc. XII, que diz: «Escrevi (isto) como um registo permanente do meu sofrimento. A minha mão perecerá um dia, mas a grandeza permanecerá». A frase resiste há 900 anos, servindo de corolário para mostrar que a intervenção existe e sempre existiu nas paredes de Coimbra. Para Ana Raquel Matos, que investiga movimentos sociais e acção colectiva, «o 25 de Abril permitiu a liberdade de certas palavras que antes circulavam em clandestinidade. Os murais passaram a ser, reconhecidamente, um dos suportes privilegiados para pendurar palavras à vista de todos. [Estes murais] representaram a expressão pública da liberdade de expressão recém-conquistada, permitindo que as pessoas emitissem as suas opiniões de forma aberta». Um destes «locais privilegiados» era o muro da actual Escola Secundária Jaime Cortesão.

Para os historiadores Eduardo Albuquerque e Pierre Marie, que, pela Rebobinar, organizam visitas em que contextualizam estes murais, o «espaço público tornou-se um local de comunicação política, cultural e social». Marie nota que «ao longo do processo revolucionário, as populações tomaram a palavra e isso marcou uma ruptura com o silêncio produzido pelo Estado Novo. Tratava-se de fazer ouvir esperanças e reivindicações».

Nas paredes confessam

O que é afinal arte urbana ou street art? Pedro Soares Neves, investigador deste fenómeno, comenta que «a designação tem significados diferentes consoante o tempo e o lugar. A designação actual não se relaciona directamente ao significado de frases de ordem e pichação, a inscrições feitas nas paredes. [Mas] existe alguma possibilidade de termos uma utilização cada vez mais abrangente do termo». Sobre a nomenclatura actual, «com algumas variações regionais, existem recorrências de uso das expressões como graffiti de murais, paste-up, stickers, etc. Autores de graffiti são frequentemente identificados por writers por membros da própria comunidade». Para o investigador, os termos são voláteis e de uso informal. Tenta também «fugir» do tema da arte e seu significado, preferindo ver aqui «a arte de bem saber fazer qualquer coisa».

A ilegalidade e a subversão são temas fundacionais da arte urbana, a par com a sua transitoriedade. Pedro Soares Neves aponta que «o vandalismo é um mundo». «Tocando a superfície, posso dizer que não sou apologista da construção do reconhecimento criativo com base em aspectos puramente destrutivos. Existem áreas cinzentas, onde se gera espaço de inovação», diz. A arte urbana que mostramos neste artigo tem sobretudo carácter legal e de forma alguma se pretende promover o vandalismo. Pretende-se, isso sim, fazer um passeio pela mais bela arte urbana de Coimbra.

Passeio da arte

O mural «Insomnia» de Violant é ciclópico e já tivemos oportunidade de falar com o artista sobre esta obra. Este mural tem a particularidade de ter chamado a atenção da Câmara Municipal de Coimbra, que o pretende recuperar e manter. Luís Santos Costa, director do Departamento de Espaço Público da autarquia, indica que a obra será requalificada «após intervenção do Metrobus, ainda a decorrer».

Mural «Insomnia», de Violant – fotografia de Gui Mota Photography

O projecto FIO – Memória como Matéria-Prima, de João Samina com curadoria da plataforma artística Mistaker Maker, também responsável pela produção do mural «Tem Sempre Encanto», é uma série de murais que pontilham a cidade e periferia, em homenagem a um determinado passado industrial da cidade. Lara Seixo Rodrigues, fundadora da Mistaker Maker, considera a arte urbana «uma ferramenta de transformação». E esta transformação pode ser «necessária, urgente, pontual, em qualquer tipo de território, com mais ou menos história, mais ou menos monumental». Como no «caso de Coimbra», refere, «uma cidade que todos julgamos conhecer e reconhecer, mas que encerra em si tanto por (re)conhecer».

Outro exemplo de evocação industrial é o projecto Art Energy, que ganhou o primeiro Orçamento Participativo da União de Freguesias de Coimbra (UFC). Foram decoradas 22 caixas da EDP por oito artistas na Pedrulha, mostrando motivos alusivos à indústria e empresas desaparecidas da zona, como referiu João Francisco Campos, presidente da UFC e Maria Lurdes Santos, uma das mentoras do projecto. Coimbra tem obras de outros grandes nomes da arte urbana actual, como Aheneah, MaisMenos, Gonçalo Mar no Museu da Água, Mariana PTKS, MyNameIsNotSem, Bordalo II e outros. Bordalo II, que fez duas obras de rua em Coimbra, mas por estar fora do país não pôde responder-nos em tempo útil, indica no dossier de imprensa que o seu trabalho artístico «se foca actualmente no questionamento da sociedade materialista e gananciosa de que faz (também) parte». Há também circulação de artistas internacionais, como Créons, que passou por Coimbra de certa forma aleatória, «havia uma parede bonita para pintar [na praia fluvial], então claro que pintei».

Gaiola, prolífico muralista conimbricense, realizou uma obra de grande dimensão no quartel dos Bombeiros Voluntários de Coimbra. Ricardo Domingos, comandante da corporação, partilha que foi «uma forma de preencher uma parede branca, fazendo alusão a um dos símbolos que caracterizam os bombeiros, dando ênfase àquele espaço. Todo o corpo de bombeiros gosta do resultado e é diversas vezes fotografado por quem nos visita».

Mapeamentos

Há obras de arte urbana que são relevantes pelas dimensões, pelo apuro artístico, pelos artistas e writers e pela sua carga política e contestatária. Existem inúmeras outras obras de arte urbana espalhadas pela cidade, que são exaustivamente catalogadas pela página Coimbra Streetart, gerida pelo autor deste artigo.

Mostramos também algumas das obras presentes na periferia da cidade de Coimbra.

Em busca do muralismo perdido

Alguns dos murais já desaparecidos da face da cidade, incluem «Amal», de Violant, e os cartazes do Museu a Céu Aberto de Portugal.

Outras obras encontram-se em risco iminente de desaparecer, como «Tem Mais Encanto», de Add Fuel e o mural de Miguel Januário (MaisMenos) na Estação Velha, afectados por obras rodoferroviárias. Miguel Januário comenta que «só tem duas peças em Coimbra», este mural e outra obra na Casa da Esquina. A obra de nEcKo na (antiga) Casa das Artes da Fundação Bissaya Barreto, segundo Maria Marques, directora do espaço, que irá entrar em obras de adaptação, «foi concebida como algo temporário, então, não irá estar quando reabrir».

Tomo a palavra

As intervenções de arte urbana ilustram a ideia de impermanência, de que tudo é passageiro e transitório. Há sempre murais e novas obras a despontar, de que o «Peço a Palavra» é um exemplo. Na RodaoCentro, de acordo com Shark, com quem falámos, há writers todas as semanas e não apenas conimbricenses: vêm de todo o país. São eles que desenham (o prémio) Folha do Campeão na própria edição e «quando têm possibilidade, costumam pintar qualquer coisa». Este grande encontro convergente de culturas urbanas é uma óptima oportunidade de ver vários artistas a pintar, «seja a limpar uma mensagem obscena ou a continuar o mega mural».

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