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Associações sediadas na Casa da Esquina

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A Casa, de Vinícius de Moraes

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Programação regular da Casa da Esquina

A Casa da Esquina «é um lugar onde acontece o que não acontece em nenhum outro sítio em Coimbra»

É «uma casa muito engraçada», mas tem de tudo. Sobretudo as portas sempre abertas para quem precisa de um espaço para trabalhar, cantar, coser, tricotar, ler poesia, tomar café, ver uma exposição, lutar por um mundo melhor, pintar.

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Fotografia: Mário Canelas

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Associações sediadas na Casa da Esquina

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A Casa, de Vinícius de Moraes

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Programação regular da Casa da Esquina

Carlos Páez Vilaró era um artista uruguaio que começou a construir uma morada em Punta Ballena, perto de Punta del Este, em 1958. Nos anos 70, Vinícius de Moraes e seu parceiro de sempre Toquinho fizeram uma digressão na Argentina e Uruguai e ficaram hospedados no que o artista plástico classificava como «sua escultura habitável» – os dois eram amigos de longa data – e a chamou de Casapueblo. Reza a lenda que em uma manhã, enquanto brincava com as filhas do escultor, Vinícius começou a improvisar trovas infantis sobre a obra, inclusive com referência direta: «Era uma casa de pororó; era uma casa de pai Vilaró». O poeta gostou tanto da brincadeira que depois fez ajustes na letra e a incluiu no disco infantil Arca de Noé, lançado em 1980.  

A Casa da Esquina é também uma «casa engraçada». Ela tem porta, sim, mas ao mesmo não tem porque lá não há barreiras para quem precisa de um espaço para trabalhar, cantar, coser, tricotar, ler poesia, tomar café. Talvez a maior semelhança entre as casas de Vinícius e Toquinho e a da coordenada por outra dupla bem afinada, as irmãs Filipa e Sandra Alves, é que são feitas «com muito esmero».

No próximo ano, a Casa da Esquina atinge a maioridade. São 18 anos a caminhar no «fio da navalha», como diz Filipa, em relação ao aspeto financeiro. Pelos próximos quatro anos, a associação terá 50% de suas despesas cobertas pelo programa de apoio quadrienal da Direção-Geral das Artes (DGartes), mas Filipa considera «injusta» a avaliação que fizeram. «Por o nosso trabalho ser pouco convencional, por associarmos economia solidária à cultura». Pode ser renovado por igual período, mas ela receia que com as eleições o governo mude e, com isso, mudem também as condições do organismo do Ministério da Cultura.

«A Casa da Esquina é um espaço que acolhe, é aberta e generosa. Está empenhada nomeadamente nas questões sociais e artísticas. Coimbra ganha tudo com um espaço alternativo onde as pessoas têm um sítio para serem criativos, para refletir. É uma património de Coimbra e precisa ser apoiado por ser diferente de tudo que existe.»

José Geraldo, Camaleão Associação Cultural

A co-fundadora da Casa também está desapontada com o apoio da Câmara Municipal de Coimbra. Segundo ela, o presidente, José Manuel Silva, disse que era obrigação da Câmara apoiar as associações apoiadas pela DGArtes nos restantes 50%. «Mas não é isso que está a acontecer; é apenas 20%», através do Apoio Financeiro Municipal à Atividade Permanente. Diz compreender que há limitações orçamentárias, mas 70% das atividades da Casa são gratuitas. «Estamos a dar aos munícipes atividades culturais e não faz sentido cobrar para ver uma exposição, para participar no Mercado de Trocas [para Crianças e Jovens]». Sara Seabra complementa: «Defendemos que a cultura deve ser remunerada: o trabalho, as pessoas, as instituições que criam e mostram seu trabalho. Para a democratização destes trabalhos, tem de haver um acordo com o Estado». 

Sara Seabra, «inquilina» da Casa da Esquina

Os restantes 30% que cobrem os custos da morada chegam de outras fontes, como a renda de algumas das salas do espaço com três pisos. Filipa Alves não fala em cifras, mas assegura que o preço é negociado consoante as necessidades. Há duas maneiras de ter um lugar na Casa: estar a começar no seu ofício e não ter estrutura, funcionando como uma espécie de incubadora, ou ter muita vontade de morar na esquina da Rua Aires de Campos com a Fernando Melo a conviver com a diversidade de ideias, artes, dinâmicas e até mesmo complementariedade – ou, como define Sara: «participar da anarquia funcional».

Pode não ter o reconhecimento dos gestores das políticas públicas, mas a Casa usufrui do aval da comunidade. «O financiamento podia ser maior, mas não é e pronto. Sempre fomos muito cautelosas. Queremos mesmo é fazer coisas que mudem a vida das pessoas. Queremos uma vida mais solidária, mais humana. Uma das coisas que mais nos motiva é o número de pessoas a frequentar as nossas atividades estar a crescer. Vemos o sorriso aparecer, como na Terapia da Agulha.» O que remete ao poeta Ferreira Gullar: «A arte existe porque a vida não basta». 

E arte é o que não falta na Casa.

Antes de ser Coimbra Coolectiva, a então apenas Coolectiva morou durante algum tempo na Casa da Esquina. Havia outros jornalistas na sala ao lado. Antes da conversa com Filipa Alves na cozinha, a beber café, revisitámos as salas e conversámos com muitos dos inquilinos. E até mesmo ex-inquilinos, como o actor e teatrólogo Ricardo Correia, co-fundador da Casa da Esquina e um dos primeiros a ter um espaço de criação na Casa, em 2006, onde também chegou a montar vários espetáculos, como O Meu país é o que o mar não quer, verso tirado do poema Morte ao Meio Dia, do poeta Ruy Belo. Um trabalho que ganhou escala e entretanto largou âncora e navegou da Casa para o mundo.

«A sororidade e fraternidade [são] efetivas até nas coisas mais pessoais, pois cria-se uma rede confiança».

Ana Costa, Graal

Na outra ponta, há Ana Rito Brito, a mais nova inquilina da Rua Aires de Campos. Ela comanda a Akto –  Direitos Humanos e Democracia, organização não governamental para o desenvolvimento para o fomento da educação, da promoção e da intervenção. A Organização Não Governamental estava muito afastada das pessoas quando estava sediada na Santa Clara, diz. Na nova morada, encontrou pessoas que estão na mesma sintonia, partilham os mesmos propósitos. Para ela, a Casa é a mais perfeita «anarquia funcional».

Para Hamilton Francisco – mais conhecido por Babu – a Casa da Esquina é seu segundo lar depois da Almedina, onde mora. Artista visual, tem seu ateliê na Aires de Campos há cinco anos. «Venho todos os dias. Gosto de tudo aqui. É um lugar onde acontece o que não acontece em nenhum outro sítio em Coimbra». Na sala em frente à de Babu, no primeiro andar, fica o estúdio de Joana Corker, designer gráfica e ilustradora, que desenvolve projetos nas áreas de cinema e educação. Para ela, felizmente não há nada estanque na Casa, «está tudo sempre ebulição», o perfeito exemplo de «work in progress».

Na cave está um dos mais recentes inquilinos, Amândio Bastos, que estava farto de Lisboa. Para o profissional de áudio, vídeo e fotografia sentir-se parte daquela fauna exuberante foi fácil porque «o apoio à criatividade é total». Rute Castela, da Graal, diz que na Casa da Esquina há também uma cultura do cuidado, como a própria entidade para a qual trabalha. «A Casa é feminista». Sentimento que é compartilhado por sua colega Ana Costa, para quem «sororidade e fraternidade efetivas até nas coisas mais pessoais, pois cria-se uma rede confiança».

Atriz, Helena Faria é uma das cabeças à frente do Coro da Esquina, projeto colaborativo e intergeracional, onde todos e todas são bem-vindos, tenham 7 ou 77 anos. «É um exercício da escrita, é uma arrevoada de pássaros onde não poderia ser feito em outro sítio, mas somente aqui.»

A eloquência verbal e gestual do encenador, autor e actor José Geraldo, da Camaleão Associação Cultural, dá a forte doçura do que a Casa da Esquina representa para o coletivo de profissionais lá instalados e para a cidade: «A Casa da Esquina é um espaço que acolhe, é aberta e generosa. Está empenhada nomeadamente nas questões sociais e artísticas. Coimbra ganha tudo com um espaço alternativo onde as pessoas têm um sítio para serem criativos, para refletir. É uma património de Coimbra e precisa ser apoiado por ser diferente de tudo que existe.»

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