Contribuir small-arrow
Voltar à home
Inscrevam os miúdos

Limites Invisíveis

Saibam mais

Estudo Limites Invisíveis

Descobrimos o que andam a cozinhar nos Limites Invisíveis do Choupal

O projecto de Educação na Natureza que leva crianças a explorar o enorme pulmão da cidade de Coimbra está a ser alargado ao ensino pré-escolar público.

Partilha

Fotografia: Mário Canelas

Inscrevam os miúdos

Limites Invisíveis

Saibam mais

Estudo Limites Invisíveis

Percorremos o corredor central até a antiga casa florestal da Mata do Choupal, em Coimbra. É aqui que está instalado o projecto Limites Invisíveis que já levou mais de um milhar de crianças, dos 3 aos 5 anos de idade, a «a brincar a brincar» contactar com a natureza, de acordo com os seus próprios interesses. A hora de almoço ofusca a algazarra normal das brincadeiras, mas apenas por breves instantes. Uma a uma, as crianças regressam da mesa e metem mãos à descoberta do que por ali há. Hoje, a atenção está nos troncos e ramagens de árvores, recolhidos da limpeza a decorrer na Mata que fica a Noroeste da cidade de Coimbra, na margem direita do rio Mondego. 

«Há aqui toda uma criatividade», observa Aida Figueiredo, de olho no que se passa à nossa frente. A investigadora é uma das representantes da Universidade de Aveiro, entidade que, em consórcio, com a Escola Superior de Educação de Coimbra (ESEC) e o Centro de Apoio Social de Pais e Amigos da Escola (CASPAE), compõe o Limites Invisíveis, criado em 2015. Na leitura dos acontecimentos, Aida Figueiredo vai enumerando o que se pode retirar desta abordagem pedagógica: «a gestão de conflitos, porque uns querem de uma forma, outros querem de outra e o adulto tem que mediar estas negociações entre eles; há a tolerância, há a frustração – porque depois a coisa não aparece logo como eles pretendem. Há aqui todo um desafio motor».


Na Casa da Mata, não há um guião para as actividades. Tudo acontece ao ritmo dos mais pequenos, a quem cabe decidir por onde andar e o que fazer, em contexto exterior e no meio da natureza – faça chuva ou faça sol. «Tudo aquilo que tem sido feito a nível de investigação tem indicado que há benefícios na permanência das crianças de uma forma sistemática, e não pontual, na natureza», observa a investigadora. Além da permanência sistemática na natureza durante quatro semanas, o projecto centra-se, segundo Aida Figueiredo, noutros princípios pedagógicos, como «a importância do brincar, da exploração, do movimento e também da atribuição de significados às experiências».

«A criança faz uma leitura da natureza e interage com a natureza, baseada naquilo que ela percepciona, indo ao encontro do seu interesse do momento», explica a investigadora. Esta manhã, os interesses estão dispersos pelo pátio. Ao fundo, um pequeno grupo brinca no chão. Ao centro, a maioria das crianças dá energicamente forma ao que foi uma cabana ou uma base secreta e nós fomos presenteados com um «almoço» especial: arroz e alface, improvisado com alguns paus e folhas, e uma gelatina de morango. «As crianças surpreendem-nos com a utilização das coisas», lança a investigadora. E qual o papel do adulto nestas dinâmicas? Segundo Aida Figueiredo, compete apenas a leitura do que está a acontecer. Depois «tanto pode deixar avançar o brincar da forma como está a decorrer ou pode introduzir algum questionamento para complexificar o brincar», conclui.

O início do programa

O Limites Invisíveis nasce do contacto de duas docentes da Escola Superior de Educação de Coimbra com a Dinamarca. «Depararam-se com este tipo de educação na natureza e, a partir daí, sempre tiverem o sonho de importar para Portugal este conceito», conta Emília Bigotte, presidente do CASPAE, a entidade que trata da logística do projecto. Se para os nórdicos o modelo acaba por ser «quase um modo de vida», por cá «por algum motivo, a partir da década de 80/90, começámos a afastar-nos da natureza, mesmo em contexto de jardim-de-infância», observa Aida Figueiredo. O projecto ganha forma em 2015 mas seguiu-se cerca de meio ano à procura de um espaço ideal para acolher as crianças, como recorda Emília Bigotte. A escolha recaiu na Casa da Mata, no Choupal, uma antiga casa florestal desactivada. 


A 15 de Fevereiro de 2016, o Limites Invisíveis recebia o primeiro grupo de 8 crianças de dois jardins-de-infância, com idades entre os 3 e os 5 anos. Cada grupo de crianças passaria então oito semanas na Casa da Mata, de segunda a quinta. Às sextas-feiras retornam ao jardim-de-infância. As instituições parceiras do Programa Casa da Mata são do sector privado. Emília Bigotte fala de constrangimentos que afastam o sector público, nomeadamente o facto de terem de participar todos as crianças da sala e acompanhadas pelo educador, a que se soma-se o custo da actividade para os pais, embora Emília Bigotte admita que «nenhuma criança ficaria de fora» dos programas por incapacidade financeira.

Além do programa, as crianças podem passar Um Dia na Casa da Mata – uma oportunidade que, segundo as responsáveis, tem tido bastante interesse por parte das instituições educativas, não só de Coimbra. Há ainda os campos de férias, com maior procura no verão, destinados a crianças entre os 6 e os 10 anos. Uma aposta que foi uma forma de «tornar este projecto sustentável», diz Emília Bigotte. O custo ronda os 85€ por semana. A presidente do CASPAE admite, porém, alguma dificuldade em encontrar investidores para este tipo de actividades e que poderiam aligeirar as bolsas dos pais. «Querem um projecto com impacto imediato e isto não tem», lamenta. 


Em cima da mesa agora está a abertura dos Programas Casa da Mata a crianças fora de contexto escolar, que pode ser uma realidade já próximo ano. Segundo Emília Bigotte, há pais interessados que acabam por ficar de fora porque «a instituição não é parceira ou não consegue encontrar um número mínimo de interessados». «Achamos, ao fim destes seis anos, que estamos efectivamente agarrados a determinadas instituições», admite a presidente do CASPAE.

Um dia na Mata para todos

Uma nova fase está a chegar para o Limites Invisíveis. A partir de Março, todos os jardins-de-infância públicos da cidade vão passar «Um dia na Casa da Mata». São 50 os estabelecimentos abrangidos e mil as crianças a beneficiar desta parceria com a Câmara Municipal de Coimbra (CMC). Em jeito de vista de estudo, crianças em idade pré-escolar vão passar o dia no Choupal, sempre com o formato de livre exploração do brincar. Por ser apenas um dia, as actividades requererem «um pouco mais de estruturação» mas, ainda assim, nunca se «desviando dos princípios», garante a presidente do CASPAE,

Esta nova fase é vista como «um desafio» e «uma demonstração de confiança no projecto», diz a responsável. Paralelamente, é entendida também uma forma de sensibilização para a importância dos espaços exteriores na educação e nas abordagens com as crianças. Por um lado, diz, Emília Bigotte, é «uma oportunidade para que os jardins-de-infância públicos possam perceber o que se faz aqui e transmitir depois, futuramente, às famílias». E, por outra, pode ser, o caminho para que, «quem sabe junto do Ministério da Educação, possam fazer um apelo a que este tipo de abordagens possam vir a ser mais frequentes no dia-a-dia das crianças», acredita Emília Bigotte.

Sem estudos mas com percepção de eficácia

Com seis anos de existência, a percepção de quem lida com crianças aponta para reais benefícios do contacto com a natureza. A começar em casa. «Segundo a percepção dos pais, há um aumento ou um desenvolvimento de competências sócio-emocionais bastante elevado», diz Aida Figueiredo, destacando ainda ideia de uma maior autonomia dos mais novos. Há ainda, por outro lado, os resultados de uma monitorização feita com crianças que integraram o projecto Limites Invisíveis no primeiro ano e que foram contactadas uns anos mais tarde, para perceber o que guardaram deste tipo de experiências. «Foi surpreendente», admite Aida Figueiredo. Os resultados evidenciaram a importância do projecto e das suas experiências na vida das crianças.

A investigadora recorda que as respostas mostram que as crianças não só se recordam da experiência, como ganham competências e conseguem transpô-las para outros contextos. «Isso é o que nos interessa: que sejam experiências que deixam marcas. Mas que deixam marcas na roupa, quando vai suja, e lá dentro». São estes resultados que, para Emília Bigotte, impulsionam o projecto: «Se conseguirmos permitir que algumas crianças possam usufruir de uma experiência que, passados muitos anos, ainda se recordam de forma positiva, acho que vale a pena todo o esforço». A vontade é que estes limites sejam ilimitados: «Estamos cá, não estamos? E vamos continuar. Contra ventos, chuvas, tempestades, mas sempre com os olhos postos no céu, para voar cada vez mais alto. Isto não vai terminar, mesmo com todos os constrangimentos», remata.

Mais Histórias

Alerta: há 41 associações de pais contagiadas pelo vírus da bondade em Coimbra

Numa semana, a ideia de Carina Pacheco, presidente da APEE do Centro Escolar Quinta das Flores, chegou aos quatro cantos do município e o resultado é uma mega acção colectiva a assinalar o Dia Mundial da Bondade.

quote-icon
Ler mais small-arrow

O 1.º Jardim-Escola João de Deus e do país continua a dar frutos

Fizemos uma visita guiada à instituição histórica e pioneira no país onde, apesar da idade, não falta frescura nem Bandeira Verde do Programa Eco-Escolas.

quote-icon
Ler mais small-arrow

MyPolis: 25 mil jovens já perceberam que podem tratar a política por tu

De plataforma digital a prestador de serviços para activar a participação cívica, o projecto de inovação social actua em 25 municípios, inclusive Coimbra, com ferramentas originais e um impacto concreto na comunidade.

quote-icon
Ler mais small-arrow
Contribuir small-arrow