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SRAM: Sem correntes não se fazem bicicletas

Na Pedrulha existe uma fábrica que produz correntes de bicicleta para toda a Europa e que é a filial duma multinacional americana, a SRAM, corporação que é a segunda maior produtora mundial de componentes para bicicleta.

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Fotografia: Mário Canelas

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Sem as correntes, rodas e pedais fabricados pela Sramport, não temos bicicletas. Situada na Zona Industrial da Pedrulha, esta é uma fábrica essencial no ecossistema empresarial de Coimbra. É a subsidiária portuguesa da multinacional americana SRAM, acrónimo que reúne os nomes dos três amigos que se juntaram para a fundar, Scott, Ray e Sam.

À face da rua fica o edifício empresarial, embrulhado no vermelho institucional da empresa-mãe. Aqui se concentram os serviços administrativos, escritórios abertos comunicantes que fazem com que o trabalho flua melhor. Além dos escritórios fica a fábrica propriamente dita, uma vasta nave fabril em permanente laboração numa dezena de linhas de montagem. Fazem-se correntes continuamente; o som de máquinas, fornos e de gente atarefada preenche toda a vastidão do espaço. 

Correntes de conhecimento

A SRAM colhe a tradição da empresa que já aqui existia, criada por Armando Simões em 1968, em pleno auge industrial da Pedrulha. Já faziam correntes, sobretudo para motociclos, mas também para bicicletas e para a indústria automóvel, fruto de uma parceria com a Peugeot. Passou para o grupo Sedis a partir de 1980 e foi depois comprada pelo grupo Sachs em 1987, que detinha várias fábricas na Alemanha e França. A SRAM adquiriu o grupo Sachs em 1997, integrando a fábrica da Pedrulha este contexto empresarial.   

«O foco da SRAM é a bicicleta; ficámos só a produzir correntes para bicicleta quando esta fábrica foi adquirida», recorda Isabel Gomes, directora-geral da Sramport. Em Coimbra a SRAM faz correntes, mas tem também montagem de rodas Zipp e pedais da marca TIME, marcas pertencentes ao universo SRAM.

«A bicicleta é algo que faz sentido para o futuro», assegura Isabel Gomes, «há pessoas noutros países que fazem 50 e 60 km para ir trabalhar, esteja sol, frio ou neve. Em Portugal, com melhor tempo, não temos essa cultura, é uma pena».

Isabel Gomes, directora-geral da Sramport

Existem diversas vantagens para esta localização, aponta Isabel Gomes. «Coimbra está no centro do país, conta com uma boa rede rodoviária com acesso à Europa. Temos essa vantagem, uma vez que mais de 90% da produção é para exportação, essencialmente mercado europeu. É fácil escoar os produtos daqui». Da parte portuária usam sobretudo o Porto de Leixões, mas também o da Figueira da Foz. «Infelizmente», acrescenta Isabel Gomes, «a rede ferroviária não está desenvolvida. O mercado europeu iria beneficiar se tivéssemos um bom circuito ferroviário».

Além das proximidades e facilidades rodoviárias e portuárias, a SRAM mantém uma parceria com a Universidade de Coimbra (UC). O que permite, segundo Isabel Gomes, «ter sempre estagiários e manter parcerias para o desenvolvimento dalgumas tecnologias. Esta parceria com a UC é principalmente com Engenharia Mecânica, mas também com Electrotecnia e Economia».

Chão da fábrica

Aqui faz-se o processo completo de fabrico da corrente de bicicleta. A estampagem, o tratamento térmico, até à montagem e expedição. O laboratório faz o controlo de qualidade e, no piso inferior ao chão da fábrica, há a zona de embalamento. A produção de correntes é contínua para não desperdiçar o uso dos fornos, em três turnos, parando apenas aos fins-de-semana. Já no caso dos pedais e das rodas, fazem um ou dois turnos consoante a necessidade. 

Isabel Gomes comenta que, em Portugal, a SRAM cresceu «muito nestes últimos anos, devido também ao crescimento da utilização da bicicleta». Se em 2020 contavam com 184 trabalhadores e facturaram 28,9 milhões de euros, no final de 2021 já eram 260 trabalhadores para uma facturação de 39 milhões, antevendo-se crescimento continuado.

Além do edifício administrativo e da fábrica anexa onde produzem as correntes, arrendaram nas imediações um espaço com 1200 m2 dedicado à produção dos pedais TIME e das rodas Zipp. Trabalham agora na criação dum novo edifício, a que já nos referimos, a construir diante do existente, no terreno do antigo Matadouro Municipal. Será dedicado à produção de rodas e pedais e a outros produtos SRAM, sem estarem definidos quais.

Isabel Gomes acrescenta: «No edifício novo devem começar 20 ou 30 [trabalhadores], [contamos] num ano possivelmente chegar às 100 pessoas». Para já, esta futura expansão está numa fase preliminar, de auscultação dos projectistas e articulação com a Câmara Municipal de Coimbra».

Cultura da bicicleta

«A bicicleta é algo que faz sentido para o futuro», assegura Isabel Gomes, «há pessoas noutros países que fazem 50 e 60 km para ir trabalhar, esteja sol, frio ou neve. Em Portugal, com melhor tempo, não temos essa cultura, é uma pena».

A SRAM tem várias iniciativas para encorajar o uso da bicicleta, quotidiano ou não.  Dão um prémio a quem vem de bicicleta para o trabalho, têm balneários para uso dos trabalhadores. Existe também um grupo informal que se reúne para fazer passeios de bicicleta. Além disso, a SRAM realiza um passeio anual de bicicleta com trabalhadores e familiares, descontinuado apenas durante a pandemia. Fazem ainda questão de estar presentes nalgumas provas desportivas, por vezes como patrocinadores.

Cerca de cinco ou seis funcionários vão para o trabalho de bicicleta, refere Isabel Gomes. E é simbólico, uma empresa que produz parte de bicicleta ter trabalhadores que a usem diariamente. Acrescenta, «[Na administração americana] têm isso muito enraizado, porque lá as pessoas vão de bicicleta para o trabalho e fazem 60km diariamente. Para promover o uso da bicicleta em Portugal, deve-se começar nas escolas, incutir o hábito da bicicleta nos mais pequeninos».

Ser empresária

Enquanto mulher a ocupar um lugar de chefia em contexto empresarial, Isabel Gomes é singular. Não conhece o restante contexto conimbricense, pelo que não pode comentar, mas acrescenta: «Na SRAM nunca senti nenhuma discriminação por ser mulher. Somos 43% mulheres, o que não é mau, [já que] estamos a falar duma metalomecânica. E a nível de chefias, a responsável da qualidade é mulher, a responsável do ambiente é mulher, a responsável da logística é mulher, a responsável de recursos humanos é mulher. Não é por eu ser mulher. As pessoas são promovidas pela competência».

Empresa sustentável

A SRAM tem um plano de racionalização de energia em curso, com várias iniciativas de redução de energia. Uma delas foi colocar lâmpadas LED. Ao nível do embalamento procuram usar ao máximo embalagens recicladas, reduzindo o plástico. De águas têm vários projectos a decorrer, um para reaproveitamento das águas da ETAR e outro para reaproveitamento das águas pluviais. Têm também o projecto de aproveitamento do calor do ar comprimido para aquecimento dos escritórios da fábrica. Em curso, para evitar a perda de radiação dos fornos – que trabalham a 900 °C – têm o projecto de isolar os fornos, de forma a minimizar o desperdício. Outro projecto ainda, é o de reaproveitamento do calor perdido pelas chaminés da fábrica.

Isabel Gomes assinala: «[Temos] outras medidas diárias, mas estas são aquelas de maior impacto. São medidas que envolvem um grande investimento, mas terão retorno. No novo edifício podemos pensar logo nos painéis fotovoltaicos, pensar numa série de coisas, o edifício pode ser mais sustentável».

Planeta Pedrulha

A SRAM há uns anos chegou a equacionar sair da Pedrulha, assinala Isabel Gomes. «Mas deslocalizar uma unidade é sempre custoso, porque tem as pessoas, vai perder esse saber. Tínhamos algumas câmaras municipais aqui nas imediações que nos queriam receber de braços abertos. Foi decisão da SRAM continuar em Coimbra, porque gostamos de Coimbra, a maioria das pessoas é de cá e queremos que a cidade se continue a desenvolver». 

Querem continuar onde estão e a ser acarinhados, pelas pessoas e instituições, querem crescer com a cidade.

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