Contribuir small-arrow
Voltar à home
Conheçam

Universidade de Coimbra

Denunciem

Problemas nos espaços da universidade

Ajudem

Se forem arquitectos ou engenheiros

A universidade faz 733 anos e nota-se, mas quando vai combater o desgaste causado pelo tempo?

Dada a urgente renovação e requalificação de infraestruturas que já sentem o peso da idade, fomos saber o que está a ser feito e quais os desafios a ultrapassar para que a academia seja mais segura e também inclusiva.

Partilha

Fotografia: Inês Mendes

Conheçam

Universidade de Coimbra

Denunciem

Problemas nos espaços da universidade

Ajudem

Se forem arquitectos ou engenheiros

A meio da tarde de 10 de Fevereiro de 2023, o súbito desabar do alpendre de betão na entrada da Cantina Central do Pólo I da Universidade de Coimbra (UC) chocou toda a cidade. Felizmente sem provocar quaisquer feridos, o episódio voltou a pôr na ribalta a incerteza social quanto à sustentabilidade das infraestruturas universitárias, cada vez mais marcadas pelo desgaste ocasionado pelas décadas de uso diário e de falta de cuidado.

«Nada denunciava à partida que aquilo ia cair, mas também nada indiciava que aquilo estava perfeito», confessa o presidente da Direcção-Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC) João Pedro Caseiro, cujo testemunho enfatiza a urgência de se resolverem semelhantes impasses estruturais nos edificados universitários. Sobressai o edifício da própria AAC, uma construção sexagenária cuja reabilitação a comunidade estudantil já reivindica há muitos anos.

Os apelos têm vindo a multiplicar-se desde o ruir da pala sob a porta das chamadas Cantinas Azuis e ecoam com precisão tenebrosa um presságio datado de Dezembro de 2020, quando as várias Secções da AAC exigiram num abaixo-assinado o diálogo com a reitoria da UC para se criar um plano concreto de resposta às carências estruturais relativas ao uso e acessibilidade diária da instituição.

A eventual resposta centrou-se primordialmente em obras feitas no ano passado para colmatar as falhas relativas à humidade e à infraestrutura eléctrica. «Para resolvermos a questão da cablagem eléctrica, primeiro tivemos de intervencionar quanto às infiltrações que existiam», revela-nos Caseiro, aludindo igualmente à empreitada que colocou um novo revestimento nos terraços, enquanto solução para os vícios derivados do isolamento térmico.

Sem acesso ao prestígio

A acessibilidade continua a ser uma mácula flagrante na UC. Várias secções como a Rádio Universidade de Coimbra (RUC), a tvAAC e a redacção do jornal A Cabra encontram-se em pisos superiores onde o acesso é estritamente feito por escadas. Francisca Tralhão, que se desloca em cadeira de rodas, admite que já lhe foi oferecida ajuda mas entende que essa não é uma solução viável e muito menos sustentável. «Implicaria sempre um risco tanto para mim como para a pessoa que me iria ajudar, já que aquelas escadas também estão um bocado degradadas.»

Uma resposta apropriada já tarda, como se pode demarcar na vasta história curricular da UC. «Eu só entrei para a faculdade o ano lectivo passado, mas antes de mim certamente muitas pessoas em cadeiras de rodas e com outro tipo de mobilidade condicionada estiveram nesta universidade que supostamente tem prestígio», continua a estudante de Jornalismo. «Acho um bocado indecente estarmos em 2023 e ainda ninguém ter pensado ou posto um plano em marcha relativamente a essas questões de inacessibilidade», remata.

Igualmente inacessível é a própria secretaria da DG/ACC, situada num dos pisos superiores do prédio. Caseiro admite que «temos o rés-do-chão e o primeiro piso que são acessíveis, mas de resto há muitas limitações», complementando com uma adenda que nos surpreendeu: «Todos os problemas deste edifício foram sinalizados antes dos problemas noutros edificados, porque é a casa de uso diário onde nós temos de assegurar à partida as condições para todos.»

Bloqueios burocráticos

A DG/AAC não só tem de respeitar as obrigações contratuais ou vinculativas anteriores, como não tem o poderio discricionário de tomar medidas sem a aprovação da Assembleia Magna ou dos estatutos, cuja autoridade deve ser respeitada. Além disso, acaba por não ser a única estrutura universitária a necessitar de uma reabilitação imprescindível.

O rol de locais em apreço revela-se no mínimo intricado por a UC deter «um edificado muito extenso e geograficamente disperso», como nos relata a resposta do gabinete de assessoria do reitor Amílcar Falcão. Uma difusão infra-estrutural que ressoou na conversa com o presidente da DG/AAC, que nos aponta múltiplas situações de decadência.

A enumeração de deficiências ou degradações a necessitar de preservação ou reabilitação ostenta exemplos prediais tão recentes (Departamento de Engenharia Mecânica, cantinas do Pólo III) como de idade avançada (Departamento de Arquitectura). «Isto é o relato que acabamos por receber de alguns colegas, mas é feito quase de uma forma informal. Estamos agora a procurar formalizar isto para percebermos quais são os espaços que visivelmente estão degradados.»

«Acho um bocado indecente estarmos em 2023 e ainda ninguém ter pensado ou posto um plano em marcha relativamente a essas questões de inacessibilidade.»

Francisca Tralhão, estudande de Jornalismo na Faculdade de Letras da UC

Após o desabar da pala, a reitoria não tardou a demonstrar empatia perante todas estas preocupações da comunidade universitária quanto à segurança, conforto e acessibilidade de todo o seu edificado. Não obstante, salienta-nos o seu empenho quer na criação de áreas de atendimento como o Student Hub – inaugurado há pouco mais de um ano – quer na requalificação e conservação do edificado classificado como Património Mundial da UNESCO.

A classificação patrimonial atribuída há quase uma década, ainda que bastante vantajosa quanto à preservação histórica e apelo turístico de locais como o Pátio das Escolas, em última análise ensombra o progresso infraestrutural enquanto entrave burocrático. «O que nos impede de fazer uma intervenção no prédio da AAC como um elevador, mais rampas ou outro tipo de mudança estrutural externa que permita pelo menos ir até ao 2º piso é que estamos dependentes em tudo o que é aprovações da Direcção-Geral do Património», afirma Caseiro.

«Este é o nosso principal problema, tanto aqui como nas cantinas azuis e outros edifícios universitários», remata o actual dirigente académico enquanto nos delimita a competência legal que a associação dos estudantes detém nestes tópicos: «Temos autonomia para chegar ao pé da Reitoria e dizer o que é que está mal e o que é que se pode melhorar, mas não para submeter uma candidatura própria porque, em última instância, o edifício é da universidade».

Proclamar as falhas e planear as soluções

Não descurando o apoio indispensável dos funcionários da AAC ou da Comissão de Trabalhadores da UC, Caseiro pede a toda comunidade universitária e civil que se faça ouvir perante a conjuntura hierárquica contemporânea. O que aqui se predica é o reportar de falhas estruturais nos espaços universitários, o qual pode ser feito para as redes sociais, para os núcleos de estudantes das faculdades ou, de uma forma mais directa, para a própria DG/AAC.

«O que nos impede de fazer uma intervenção no prédio da AAC como um elevador, mais rampas ou outro tipo de mudança estrutural externa que permita pelo menos ir até ao 2º piso é que estamos dependentes em tudo o que é aprovações da Direcção-Geral do Património.»

João Pedro Caseiro, Presidente da Direção Geral da AAC

A listagem dos locais mais fragilizados será então enviada para a reitoria, de modo a que a mesma promova uma avaliação das condições de segurança e acessibilidade do edifício da AAC e outras estruturas similares do edificado da UC. Isto tudo para que seja apresentado e aprovado um plano geral de manutenção de todos esses edifícios. Compromisso que se divide na visão da actual DG/AAC entre o preventivo e o proactivo, pois há que ter em conta a continuidade a alicerçar para vindouros tempos, estudantes, direcções-gerais e reitorias.

«Acho que é uma questão de mentalidade, pois existiu agora um clique e temos de aproveitá-lo de maneira a concretizar garantias para o futuro. A DG sempre teve a responsabilidade de contribuir para a diferença e aqui isso traduz-se em identificar que espaços é que estão mal em termos de infraestruturas. Sabemos que a responsabilidade de fazer acontecer nos é externa, pois a Universidade é que tem de agir sobre isso… Mas se calhar essa consciência foi o que impediu o pontapé de saída que devia ter sido dado por outros e não por nós.»

Mais Histórias

A revolução também morou na Casa dos Estudantes do Império de Coimbra

O número 54 da Avenida Sá da Bandeira recebeu jovens das então colónias portuguesas sob o espírito colonial. Mas o tiro saiu pela culatra e quem acabou por ocupá-la foi a liberdade, o espírito democrático e a luta anticolonialista.

quote-icon
Ler mais small-arrow

Associação de moradores precisa do contributo de todos para plantar um mural do 25 de Abril no Monte Formoso

Painel de azulejos será «uma obra de arte que destaque e celebre, no espaço público, os valores de Abril». Mais de uma dezena de pessoas já apoiaram a causa. O valor total necessário é de 511€.

quote-icon
Ler mais small-arrow

Coisas para Fazer em Coimbra

Celebramos os 50 anos do 25 de abril com a estreia do nosso primeiro documentário original. Estreia dia 24 de abril, no TUMO, e é um entre tantos contributos que tornam a data ainda mais bonita e importante do que já era. Celebremos a liberdade.

quote-icon
Ler mais small-arrow
Contribuir small-arrow

Discover more from Coimbra Coolectiva

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading