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Vídeo: Cidade do Zero 23'

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The Loop

Há um sistema de reutilização de embalagens a nascer do Zeroo entre Coimbra e Lisboa – e pode ser revolucionário

Estivemos na apresentação pública e moderámos a conversa que se seguiu sobre o futuro do «packaging» na Cidade do Zero. Foi a segunda edição da iniciativa criada por Catarina Barreiros para quem quer saber mais sobre sustentabilidade, em Lisboa, visitado por mais de 20 mil pessoas.

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Fotografia: Filipa Queiroz

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«Estávamos a trabalhar em conjunto num sistema de depósito e reembolso, em que a nossa empresa era parceira, e às tantas tive um desabafo: “Mais do que os incentivos, tem de ser mais fácil reutilizar do que reciclar”. E o Ricardo [Morgado] disse: “Então vamos trabalhar nessa ideia”.» Foi há dois anos, e o Zeroo Smart Packaging Solutions já é uma realidade. Além da sua loja Do Zero, Catarina Barreiros, que há um ano convidámos para conversar no Brew! Coimbra, está a desenvolver o sistema pioneiro com a conimbricense The Loop.

A start-up de tecnologia para a circularidade foi, aliás, umas das principais patrocinadoras e esteve em grande destaque na Cidade do Zero, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, no passado dia 16 de Setembro, onde moderámos uma conversa sobre o assunto e experimentámos a primeira máquina de distribuição de produtos a granel com cups que não são apenas reutilizáveis como rastreáveis, criados pela joint venture.

«Coimbra é o centro de Portugal e temos várias entidades de Coimbra aqui. A Ecox, vocês da Coimbra Coolectiva, a Green Det, além da The Loop. Coimbra tem muito a dar à economia circular», comentou Catarina Barreiros, no final da sessão. No fim-de-semana de 16 e 17 de Setembro, mais de 20 mil pessoas passaram pelo Centro Cultural de Belém para saber mais sobre sustentabilidade e quais são as marcas portuguesas a trabalhar no sector e participar em palestras, debates, workshops, oficinas, showcookings e espetáculo de stand up. Foi tal o sucesso que já está prometida uma nova edição em 2024.

Tudo começou com o granel, por ser «um granel»

«Eu era consumidora de produtos a granel e era uma seca ter de planear tudo, ver que quantidade tinha de levar, separar, encher, pesar», conta Catarina Barreiros. «Houve um dia em que levei um frasquinho com especiarias e, sem me aperceber, gastei 100€. Depois há os sacos e saquinhos. Arrisco dizer que roça o greenwashing», exemplifica a Mestre em Arquitectura e Gestão, fundadora da loja Do Zero e guru da sustentabilidade em Portugal, com mais de 100 mil seguidores na página do Instagram.

À conversa sobre O Futuro do Packaging numa das três salas da Cidade do Zero, a propósito da apresentação do Zeroo, falámos sobre o caminho desbravado das soluções para o granel e as embalagens descartáveis. Além de Catarina Barreiros, participaram Miguel Portugal, diretor-geral da Zeroo Smart Packaging Solutions, Fernando Ventura, director de Inovação Ambiental do Grupo Jerónimo Martins, Carlos Gonçalves, administrador da Casa Mendes Gonçalves, responsável por marcas como a Paladin, Peninsular, Dona Pureza, Biomit e fundador da Vila Feliz Cidade, projeto de educação fundamentado nos princípios da agricultura regenerativa. Também Maria José Rebelo, diretora de sustentabilidade dos CTT.

Maria José Rebelo, Carlos Gonçalves, Fernando Ventura, Catarina Barreiros, Miguel Portugal e Joana Pires Araújo

O Zeroo Smart Packaging Solutions começou por causa do granel, mas elevou a fasquia. A The Loop criou inteligência nos dispensadores, fizeram com que as pessoas consigam através do ecrã aceder a informações de forma mais simples para fazer a compra, mudaram por completo o sistema de pesagem e as pessoas podem ver na hora o preço de cada produto. As embalagens comunicam com os dispensadores, fazem com que a rastreabilidade seja feita de maneira efectiva, e, por outro lado, a embalagem comunica com o cliente. «Podem pegar no telemóvel, aceder a esta espécie de cantina digital através de um QR Code e conhecer todas as informações sobre o produto: qualidade, preço e pegada ecológica, porque têm acesso aos detalhes da embalagem: quantas vezes e como foi utilizada», explica Miguel Portugal.

Catarina Barreiros lembra que, actualmente, são produzidas 79 milhões de toneladas de plástico no mundo por ano e a maior parte são embalagens de uso único. Ou seja, para usar uma vez e deitar fora. O Zeroo implica produzir plástico, mas Catarina e Miguel explicam que «era uma das preocupações iniciais, por isso a ideia até era usar qualquer embalagem». «Nós estamos a usar o PEAD, que é o plástico mais reciclável e estamos a pôr um produto no mercado que está a ser rastreado. De nada serve pôr um produto reutilizável no mercado se eu não souber que ele vai ser reutilizado. Estamos a trabalhar com uma cientista que trabalha apenas os plásticos, a investigação dela é em plásticos, para encontrar um material que seja uma boa combinação de plástico reciclado, bio-plástico, durabilidade e reciclabilidade. Esta combinação é um inferno de encontrar», revela Barreiros.

Miguel Portugal convida os presentes a pegarem numa embalagem Zero e sentarem-se em cima dela. Garante que é muito mais forte do que qualquer tipo de vidro e que, além disso, o sistema consegue integrar qualquer outra embalagem, se for esse o desígnio de alguma marca. «Um dos nossos investimentos é encontrar o molde perfeito para as nossas embalagens a granel e take away. É um desafio e é importante que as pessoas percebam que um plástico deste tipo bem utilizado é muito melhor do que qualquer tipo de vidro.»

Dar utilidade ao que muitos pensam que não tem valor, devolver, rastrear, transformar, mudar são palavras de ordem nesta conversa sobre passado, presente e futuro. «Se utilizarmos 8 ou 9 vezes a mesma embalagem já conseguimos reduzir significativamente a pegada ecológica«, atira Miguel. Os cups da Zeroo dão para 250. A ambição da Zero é criar um sistema operativo para embalagens circulares porque acreditam que as empresas precisam de «ajuda na circularidade». «A Loop é a prova disso, criou mecanismos para as empresas aumentarem a circularidade e nós estamos a fazer o mesmo. Não naquilo que são os produtos, mas naquilo que é o packaging

Resumindo: como funciona? «Imaginem que a Catarina faz uma compra. Compra umas pipocas no zero cup e vai para casa. Entrega o cup a uma transportadora, um parceiro de recolha, idealmente que se desloque através de mobilidade suave para estas entregas. A transportadora recolhe, leva a um parceiro de lavagem, a transportadora vai levar ao retalhista onde foi adquirida e fica novamente disponível para outros clientes que queiram comprar.» Uma coisa muito simples: que seja mais fácil do que reciclar. Se for assim, todos nós vamos conseguir fazer, todos os parceiros vão contribuir e teremos certamente uma redução no plástico que é enviado todos os anos para o lixo, incineração, reciclagem. 

Uma questão de conveniência

Para Fernando Ventura a conveniência dita tudo relativamente ao descartável e ao reutilizável. Revelou na conversa que o Pingo Doce já alterou o formato de embalagens para acondicionar um maior número de unidades por palete, o que faz com que circulem menos camiões, logo se emitam menos CO2, sem alterar o peso e componentes. Na calha da cadeia de supermercados, está um maior investimento no programa eco-design, em que explicam muito claramente que alterações fazem, desde incorporar mais material reciclado, a reduzir peso ou eliminar embalagens. 

«Há soluções a granel que não são convenientes», lança. «Não tem a ver com vontade e planeamento. A conveniência vai ditar a evolução neste sector. Pensar embalagens é pensar o próprio produto. O Pingo Doce lançou, há dois ou três anos, duas gamas de produtos na área da higiene pessoal e detergência, como champô em barra e lixívia em pastilhas. Os benefícios são gigantescos. Perguntam-me se têm sucesso: não têm. É fácil perceber que se poupa em tudo, o consumidor até pode reutilizara. embalagem que tem em casa, mas quer no acto da compra que no uso a conveniência é determinante.»

O responsável conta que há mais de um ano que apesar de já ser possível adquirir take away com embalagens próprias, e de haver uma taxa de 0,30€ pelas embalagens descartáveis, não representa nem 0,1% das vendas. «Por isso digo que o preço não é determinante. Não houve alteração de comportamentos.»

Dois passos atrás para dar dois à frente

Não é novidade: já usámos sacos de pano, já foi comum a devolução de garrafas e sistema de tara, já usámos fraldas de pano. «Vamos voltar ao passado», diz Catarina Barreiros, «mas para isso também tem de haver vontade da parte do governo. Temos embalagens que nos chegam e foram utilizadas mais de 12 vezes na Loja do Zero. Não estamos a inventar a roda, é tornar estes processos mais simples. Tem de haver uma sistema sistémica, governamental, legislativa. Tem de haver uma linguagem comum e fácil para todos interagirem.»

Financiado pela The Loop e Loja do Zero, a Zero Smart Packaging Solutions está no processo de levantamento de capital para conseguir ganhar escala. Procuram parceiros dispostos a testar, que é o mais difícil de encontrar. «Quantas empresas que têm a capacidade de ajudar uma start up é que dizem: assumimos o risco e vamos ver o que é que acontece?», conclui Barreiros.

Cidade do Zero

As marcas que estão no mega evento organizado por Catarina e o marido, João Barreiros, são marcas que decidiram testar coisas que não são a norma. O objectivo da Cidade do Zero é proporcionar uma experiência de uma cidade orientada para a sustentabilidade. Se o dinheiro é que mexe o mundo, como o fazemos mexer para o bem?, foi uma das questões debatidas na sala da GoParity, que contou sempre com lotação esgotada. Foi possível aprender a fazer coisas como uma horta em qualquer lado, compostagem em casa, limpezas sustentáveis da casa, tingimento com plantas.

Também houve um mercado de trocas (de livros, plantas e roupa), de vendas em segunda mão e várias oficinas de reparação (de calçado, roupa, pequenos eletrodomésticos e bicicletas). Para crianças e famílias, houve workshops de cozinha e oficinas, entre outras atividades, e uma zona de restauração para refeições completas. 

A zona de consumo tinha cerca de 120 bancas, com marcas das áreas da moda, cosmética, soluções de energias renováveis, entre outras, e todas nacionais, destacando-se por um ou mais dos seguintes princípios: produção ética, impacto social, circularidade, gestão de resíduos e/ou trabalho com matérias-primas recicladas. 

A produção do próprio evento também foi pensada de forma a causar o menor impacto ambiental possível, mantendo o compromisso de utilizar apenas materiais que já estivessem produzidos, ou cuja produção já estivesse planeada, apostando ainda em materiais nacionais, renováveis e reciclados.  Toda a sinalética foi aproveitada e será reutilizada num estúdio nacional de design.

As bowls da máquina ZEROO contaram com 2420 enchimentos e 1420 reutilizações, e os cups 500 enchimentos com 110 reutilizações. A Cidade do Zero contou com o apoio da Delta, GoParity e EMEL. AEG, Asus, Be@t, Casa Mendes Gonçalves, Civifran, Companhia das Madeiras, DECO, Eletrão, EMEL, Grupo Ageas Portugal, GROHE, Pingo Doce, Planta Livre, Salsa Jeans, The Loop e Volvo foram as novas empresas parceiras desta segunda edição da «cidade mais sustentável e inclusiva do país». 

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