Marisa Lousada, Maria Gabriel e Patrícia Oliveira concorreram à última edição do Arrisca C com o projecto «A Comunicar é que a Gente se Entende?». Consistia numa coleção de histórias criadas para terapeutas da fala, educadores de infância, professores e outros cuidadores de crianças com Perturbação do Espetro do Autismo em idade pré-escolar ou no início da idade escolar. A prevalência da perturbação tem aumentado e estudos recentes do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças apontam para uma em cada 54 crianças, o que nas palavras das vencedoras do 1.º prémio na categoria de Inovação Social «tem um impacto muito negativo na socialização e na relação com os pares».
O grupo criou histórias sociais como «Olha para mim» (que promove o contacto ocular), «Gostava de uma Resposta» que promove a resposta comunicativa) e «Deixa-me falar» (que promove o respeito pelos turnos de conversação), que têm como ponto de partida a perspetiva do interlocutor e o impacto que o comportamento da criança com perturbação tem no outro, de modo que as crianças identifiquem e julgue o comportamento da personagem principal, possam empatizar com o interlocutor e deduzir os resultados subsequentes de uma situação, identificando uma resposta adequada ao problema. Cada história é acompanhada por um guia de utilização.
«O prémio possibilitou o lançamento dos livros. A UACoopera (entidade da Universidade de Aveiro
responsável pelo empreendedorismo e transferência do conhecimento) licenciou o produto a uma
empresa, a Clínica Contigo», conta Patrícia Pereira. Posteriormente, começamos a receber vários convites para apresentação da coleção em vários contextos como escolas e bibliotecas de municípios», conta Patrícia Oliveira, e o prémio também foi uma mais valia para a divulgação na comunicação social. A coleção está disponível para compra no website da Clínica Contigo.
Patrícia diz que em termos de dificuldades lembra-se que a preparação do pitch para o concurso foi uma delas. «Pensar em clientes, modelo de negócio, canais de distribuição, receitas, etc. Somos terapeutas da fala e investigadoras e usualmente não pensamos nestes conceitos.» A ajuda da equipa da UACoopera «foi fundamental e fez toda a diferença», além da «equipa de organização do Arrisca C, bem como todas as dinâmicas proporcionadas no dia do concurso também foram uma mais valia» para se prepararem e motivarem para a jornada de empreendedorismo.
Patrícia Pereira, investigadora no Laboratório de Ensaios, Desgaste e Materiais no Instituto Pedro Nunes, concorreu ao Arrisca C com Jorge Coelho, Ana Clotilde Fonseca e Fábio Cerejo com o projecto NerveGen, que arrecadou o primeiro lugar na categoria de Inovação e o prémio da Câmara Municipal de Coimbra na 11ª Edição do concurso ARRISCA C. Graças aos prémios, e à visibilidade social e financiamento que permitiram, desenvolveram o dispositivo médico que serve para orientar os nervos periféricos humanos que tenham sofrido lesões, ajudando-os a se auto-regenerarem. A diferença de outros dispositivos é o facto de ser «biodegradável de forma controlada, não tóxico, completamente seguro» e «produzido integralmente com polímeros aprovados pela Food Drug Administration (FDA), o PCL e o dextrano».
«Foram de extrema importância para o desenvolvimento tecnológico da nossa solução terapêutica, permitindo aquisição de alguns bens e serviços», assegura Patrícia Pereira. No ano passado, o grupo conseguiu passar da preparação dos tubos-guia utilizando um molde artesanal para a impressão 3D, com características/propriedades customizadas (medicina personalizada) que permitem «flexibilidade, integridade estrutural e permeabilidade». A maior dificuldade no processo prendeu-se com «toda a validação pré-clínica e clínica necessária para colocar os nossos tubos-guia no mercado. Ainda no decorrer deste ano, iremos dar início aos estudos pré-clínicos em animais de grande porte, ovelhas, para validação de segurança e eficácia biológica dos tubos preparados por impressão 3D, para serem posteriormente apresentados às entidades reguladoras.»
Organizado pela Universidade de Coimbra, o Concurso de Ideias de Negócio, conhecido como ARRISCA C, é nacional e premeia ideias inovadoras na área do negócio de base científica e tecnológica. Recursos Naturais e Bioeconomia, energia e clima, materiais, tooling e tecnologias de produção, cultura, criatividade e turismo, tecnologias digitais e espaço, saúde e bem-estar. As candidaturas estão abertas e nesta que é a 12ª edição já há 48 000€ em prémios confirmados.
O regulamento do concurso está disponível online e a finalidade é contribuir para a criação de spin-offs académicas, empresariais e startups e contribuir para o desenvolvimento económico e social sustentável, promover o espírito empresarial e a recolha do conhecimento e tecnologia conseguido através das atividades académicas, divulgando e fazendo também a distinção do trabalho e das ideias de negócio que tenham como base o conhecimento científico e/ou tecnológico. Serve, no fundo, para promover uma cultura inovadora e tem quatro categorias: inovação, inovação social, inovação júnior e sustentabilidade.
O Arrisca C já conta com 11 edições e para além dos prémios monetários, dá aos participantes a oportunidade de ganhar acesso a programas, eventos e cursos, incubação física e virtual e sessões de apoio técnico em várias áreas especializadas. Em 2022, contou com mais de 130 candidaturas e atribuiu cerca de 40 000€ em prémios. Este ano, a semi-final está prevista para abril e a sessão final para maio, ambas realizadas em Coimbra.
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