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Rugby Agrária de Coimbra

Experimentem

Treinar com os «charruas»

Rugby em Coimbra: a força dos «charruas» da Agrária

Quinze empurram mais do que um, mesmo que seja muito bom e o mote do Rugby Agrária de Coimbra estende-se à estrutura técnica e direção do clube onde o voluntariado tem lugar cativo, dentro e fora do relvado.

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Fotografia: Mário Canelas

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Rugby Agrária de Coimbra

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Treinar com os «charruas»

Henry Blaha, jornalista norte-americano apaixonado por râguebi, disse, ainda no início do século passado: «O râguebi é um jogo bárbaro jogado por cavalheiros. O futebol é um jogo de cavalheiros jogado por bárbaros. O futebol americano é um jogo bárbaro jogado por bárbaros». Em Coimbra, a modalidade originária da cidade de Rugby, em Inglaterra, tem tantos adeptos que há dois clubes e são verdadeiras comunidades. Além da pioneira Secção de Rugby da Associação Académica, dentro da Escola Superior Agrária de Coimbra (ESAC) é a principal modalidade desportiva, mas não só.

Filiada na Federação Portuguesa de Rugby desde 1963, o Rugby Agrária de Coimbra é a sétima equipa mais antiga de Portugal. Em 1975, a bola oval parou de avançar em campo e o clube foi reactivado em 1992. João Alberty fez parte do processo que recolocou o espírito «charrua» no mapa português do desporto. O presidente do Agrária conta que o instrumento rústico usado para lavrar a terra virou alcunha de «quem faz parte, como estudante ou atleta, da Escola Agrária». «É a charrua que trabalha a terra para criar alimento e riqueza.»

O râguebi entrou na vida de Alberty em 1991, quando ingressou na ESAC como caloiro de Engenharia Agropecuária. Dedicava-se ao motociclismo mas, depois de começar a treinar, em 1992, envolveu-se de tal modo que acabou por participar efusivamente no processo de reactivação do clube. Em 1994, começou a ser construído um campo, o clube voltou a filiar-se na federação e foi o início daquela a que Alberty chama a «segunda geração na Agrária». «Conseguimos agregar atletas em torno de um grande homem do râguebi português: o professor de Educação Física Tony Cabral Fernandes. Ele veio nos ajudar junto com o filho, Ricardo Leão. Foram os primeiros treinadores.»

Alberty fez parte das primeiras equipas do Rugby Agrária de Coimbra e manteve-se sempre ligado à Escola, como aluno e jogador. Mesmo depois de formado (e já a trabalhar na área do Ambiente, com recursos hídricos) continuou no clube e foi o primeiro a treinar a equipa sénior feminina, em 1999. O trabalho rendeu bons frutos. Na época de 2005/2006, a equipa venceu todas as competições oficiais. Dois anos depois, ambas as equipas séniores do Rugby Agrária estavam na 1ª divisão nacional e nascia o projecto Escola de Campeões.

O pioneirismo das atletas femininas marca o discurso de Alberty nesta entrevista. Ele conta que a equipa desatou os nós que amarravam a modalidade por cá: «O râguebi feminino era um tabu. Só havia meia dúzia de equipas em todo o país e toda a gente dizia que aquilo era só para homens. Mas as nossas jogadoras traziam um espírito espetacular que deu muita, muita visibilidade à Agrária», menciona. 

João Alberty, presidente do Rugby Agrária de Coimbra

Para o presidente, as crianças e jovens de hoje «estão a ser criados para abrir uma empresa aos 23 anos e ganhar cem mil euros no primeiro mês», pensamento que considera que as tem afastado da prática desportiva. «Ouço que o desporto tira o tempo de outras aprendizagens… A verdade é que o desporto só acrescenta uma formação que mais ninguém consegue dar».

O Rugby Agrária tem amadurecido e junto vem as dores de crescimento. O clube conta hoje com 220 atletas divididos por 10 equipas, dos Sub 6-8-10-12-14 (formação), Sub 16 e Sub 19 (desenvolvimento), Seniores Feminino, Masculinos e equipa de Touch Rugby (competição). Todos os diretores, treinadores, o médico e os fisioterapeutas são voluntários: 36 pessoas (18 treinadores, 10 diretores, 2 fisioterapeutas, 1 médico e 5 elementos da direção do clube), com formação credenciada na sua área de ação.

Treino da Escola de Campeões do Rugby Agrária de Coimbra, na Escola Superior Agrária de Coimbra

«Afinal, o que queremos? Ter uma equipa sénior com atletas maioritariamente formados no clube», pergunta e responde Alberty. O (também) pai de Manuel Francisco, atleta do escalão Sub10, pontua que este é um desporto de conquista de território e, portanto, o coletivo é a palavra de ordem. Alega que quinze empurram mais do que um, mesmo que seja muito bom, e isso reflete-se também na estrutura técnica e diretiva do grupo. O voluntariado é também um jogador no relvado.

Ana Arranz Quiñones, madrilena e arquitecta de interiores, mudou-se para Coimbra há 13 anos. Morava perto da ESAC e assistia aos treinos e jogos durante os passeios para «ver os cavalos», por isso acabou por inscrever os filhos Martins (8) e Pedro (5) no Agrária, mas não foram só eles que integraram na equipa. «Fomos muito bem recebidos, sentimo-nos logo parte da família Agrária. Comecei a participar como voluntária nos convívios, ajudava a fazer as bifanas.» Hoje faz parte da direção, também como voluntária e com responsabilidades que vão desde a organização das inscrições, avaliações médicas, equipamentos e contacto com pais à logística de encontros, que concilia com o trabalho. «Andava à procura de respostas para uma questão que sentia crescer em mim: O que é que eu faço para a minha comunidade? Encontrei neste voluntariado a resposta. Quero ser exemplo para os meus filhos, eles aprendem com as nossas ações. Espero que, um dia, olhem para trás e digam: Olha, a minha mãe esteve lá, participou e eu vi-a a ajudar a comunidade».

Mariana Santos tem 20 anos e começou a praticar o râguebi com sete, graças a uma amiga da escola, em Ribeira de Frades. «Pedi aos meus pais para experimentar e, como não vivia em Coimbra, foi preciso toda uma movimentação familiar para adequar a nossa vida à minha nova escolha.» Os pais achavam que era um «desporto de homens». «Mas eu cheguei cá e mostrei que isso não era bem verdade», conta. Gostou do ambiente, das regras e da exigência. Fincou tão bem os pés de (ex) bailarina no campo das traves altas que já é «loba» e integra a equipa da seleção portuguesa feminina, além de treinar «charruazitos» do escalão Sub10. «As pessoas pintam um quadro onde o jogador do râguebi é aquele homem alto, grande e que só sendo assim é que se vence. Isso não é verdade, aqui há lugar para o pequenino, olhem para mim. Cada um tem uma posição em que se encaixa perfeitamente, todos precisam de levar a bola para a frente.»

Em Novembro, Mariana esteve em São Paulo para um duplo confronto com a seleção brasileira. São jogos que servem de preparação para o Europe Championship de 2024. As seleções portuguesa e brasileira defrontaram-se pela primeira vez na história. O Brasil venceu o primeiro jogo e Portugal o segundo. «Foi incrível. É uma realidade totalmente diferente. Eu recebi um convite para ficar por lá, como profissional, mas não aceitei», confessa a jogadora.

Tiago Costa Gonçalves já foi o treinador campeão nacional com a equipa feminina, é antigo atleta campeão nacional pela Agrária (2006/2007) e também já arbitrou internacionalmente. Treina voluntariamente as crianças no Rugby Agrária de Coimbra, entre eles o filho, José Afonso, jogador do Sub 6. Advogado de profissão, começou a jogar com 14 anos na Secção de Rugby da AAC e hoje é tido como uma referência do Agrária de Coimbra. Refere que, em Portugal, a modalidade sobrevive do trabalho de voluntários e «desse acumular a vida no desporto, com a família e com o trabalho, mais uma boa dose de loucura». Acredita que as pessoas têm menos disponibilidade para dar um pouco de si, não só no desporto, mas garante que o tempo que disponibiliza a estas crianças é o retorno pelo que já recebeu. «Também comigo houve quem assumisse o compromisso de transmitir o conhecimento do râguebi, de dedicar três dias na semana e muitos sábados e domingos para a minha formação. Acho que nós temos que devolver isso à comunidade. Sinto que tenho o dever de transmitir ou tentar transmitir essa minha boa experiência».

Passar cartão ao civismo

Nos jogos do Rugby Agrária de Coimbra quem tem comportamentos exemplares ou anti-desportivos leva com cartões pedagógicos, dentro e fora de campo. A equipa usa três cartões (criados pela Federação Portuguesa de Rugby) – verde, amarelo e vermelho – para promover o civismo durante as partidas.

A prática poderia ser seguida em qualquer modalidade. No râguebi, reforça a cultura que o desporto já tem de boas práticas e respeito pelas regras do jogo.

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