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As fábricas de sabão em Coimbra

Sabão com Arte e uma fórmula social e sustentável

Do coração da Alta de Coimbra para o mundo, a iniciativa social associa a visão tradicional da saboaria a uma iconografia fragante, com o propósito de criar oportunidades mais sustentáveis e a quem mais precisa.

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Fotografia: Mário Canelas

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«Eu não sinto muito o cheiro, mas muita gente que cá vem diz que sentem mesmo o cheiro, mas não estão habituados», diz-nos Jonathan Rios enquanto verifica a consistência e os carimbos nos sabonetes. No final da conversa, o nosso olfacto já se acostumava ao perfume que permeia pelo espaço situado na Couraça dos Apóstolos nº 3. Trata-se da Sabão com Arte, projecto do Centro Integrado de Apoio Familiar de Coimbra (CEIFAC) que se dedica a reviver uma velha prática fabril da cidade: a produção de sabão.

«Pretendemos com este projecto recriar esta tradição de Coimbra que muita gente desconhece, mas que teve uma forte implantação no século XIX», aponta-nos Maria João Vieira enquanto nos relata o historial do fabrico de sabões na nossa cidade. Frisando sobre empreitadas industriais como a Fábrica de Sabão Marthas (que laborou por mais de 100 anos), salienta-nos as raízes formulaicas do sabão presentes no primeiro Código Pharmaceutico Lusitano, impresso na Universidade de Coimbra em 1835.

Podemos encontrar uma edição original desta Pharmacopeia na Sabão com Arte, marcando presença não apenas como relíquia histórica mas também enquanto pedra basilar da saponificação. «Recuperámos uma receita que está publicada na primeira Pharmacopeia que faz referência a um sabão. Foi a Faculdade de Farmácia que recriou a fórmula, que nos pareceu interessante porque a única gordura que utiliza é o óleo de amêndoas doces, produto natural que antigamente era utilizado para os cuidados higiénicos com os bebés.»

«Pretendemos com este projecto recriar esta tradição de Coimbra que muita gente desconhece, mas que teve uma forte implantação no século XIX.»

Maria João Vieira, Sabão com Arte

Além desse óleo, a Sabão com Arte também tem recorrido ao azeite rosmaninho de Valpaços como alternativa basilar, mas sem se desviar muito da fórmula original, pois a produção de sabão conforma-se ao dossiê do produto – onde se encontram todas as normas técnicas dos ingredientes que entram na composição do sabonete -, bem como às regras higiénicas e legais relativas à área da dermocosmética, sob a atenta supervisão do Infarmed. Um rígido esquema que leva a que estes sabonetes possam ter apenas um singelo perfume.

Maria João Vieira, directora do Centro Integrado de Apoio Familiar de Coimbra (CEIFAC)

«Na altura em que a Faculdade de Farmácia esteve a recriar a fórmula, perguntou-nos que aroma gostaríamos e optámos por um a rosas, em honra à Rainha Santa», explica-nos a responsável pelo projeto, com a adenda de «para alterar um elemento como esse é necessário criar um outro dossier distinto, um processo muito caro e moroso.» Um factor de longo prazo sempre presente, quer na natureza lenta a que este fabrico implica, quer nas próprias origens desta iniciativa de inovação e de empreendedorismo social.

«Dadas as características inovadoras dos nossos projectos, era fácil obter financiamento, mas quando esse terminava, o projecto também, porque deixávamos de ter possibilidades para continuar.» Assim, a solução do CEIFAC passava por criar uma iniciativa que no final fosse autossustentável, assegurando a sua continuação através de uma receita própria que vai além do subsídio inicial. «Em 2014, apresentámos este projecto da Sabão com Arte com o sabonete enquanto produto vendável e ficámos em primeiro lugar a nível nacional.»

A implementação do negócio social deu-se em 2015, com vista a possibilitar jovens socioeconomicamente vulneráveis com melhores competências e condições de empregabilidade. Jonathan foi um dos primeiros beneficiários da iniciativa. Veio para Portugal há 7 anos para se juntar à mulher e filha e deparou-se com as inscrições no centro de emprego, mostrou-se interessado em saber como se faziam os sabonetes e avançou para a formação, seguindo o programa de capacitação profissional de 10 meses.

Desde então que marca presença diária a trabalhar nas instalações reabilitadas na Alta de Coimbra. «Até aí, era mais venda directa ou online», revela-nos Vieira, prenunciando os tempos difíceis da pandemia: «Quando abrimos a loja em 2019 tivemos algum movimento, mas depois houve a infelicidade do Covid que levou a dois anos terríveis.» O testemunho não revela desânimo, mas realça que hoje «é preciso vender muitos sabonetes para pagar um simples vencimento, além de todos os encargos relativos à produção.»

O percalço pandémico levou a que se adiantassem na produtividade, em contramão à natureza morosa da saponificação e sobretudo da secagem, que no mínimo dura dois meses, podendo chegar a quase um semestre. «Fazemos uma ou duas barras de cada vez, sendo que uma barra dá para 19 sabonetes.» Ao visitarmos a sala de secagem – onde tanto a temperatura como a humidade ambiente são constantemente controladas -, somos arrebatados pelo aroma intenso dos vários lotes de sabonetes já prontos a entrar no mercado.

Não obstante o armazenamento, Vieira assegura-nos não fazem produção em massa, salientando a principal distinção de empreitadas fabris por esse país fora: «Quando o nosso produto é posto em venda, o ideal é que seja num sítio onde a qualidade ressalte, pois não podemos competir em termos de preços com o produto industrial, que é muitíssimo mais barato por ser feito de maneira abundante», revela-nos por entre os caixotes de sabonetes, alguns deles sendo excedentes residuais que são igualmente colocadas para secagem.

Maravilhados com a prática de zero desperdícios – ao ponto de a água do desumidificador na sala de secagem ser reusada para regar as plantas à entrada da loja -, vislumbramos os sabonetes embalados em papel-manteiga à espera de uma encomenda de personalização. Apercebemo-nos pois como o Arte da nomenclatura não se esgota no artesanal, estendendo-se à imagética com que os sabonetes são apresentados. «As embalagens são personalizadas, feitas aqui por nós. Fazemos os números de acordo com a quantia que nos é encomendada.»

Observando diversos modelos desses invólucros com estéticas distintas (que vão desde temáticas de eventos até elementos emblemáticos da nossa cidade), é-nos evidente a variedade iconográfica que se desvenda igualmente em exemplos mais decorativos feitos a partir de sabonetes de glicerina, como rosas ou sardinhas. E embora as embalagens e o marketing sejam no sentido de providenciar uma lembrança de Coimbra, o público-alvo não é somente o de teor turístico ou sequer os saudosistas do sabão tradicional.

«Queremos é que isto tenha uma capacidade produtiva suficiente para se autofinanciar e capacitar cada vez mais trabalhadores.»

Ricardo Ferrão, CEIFAC

Ricardo Ferrão, voluntário do Centro Integrado de Apoio Familiar de Coimbra (CEIFAC)

Ricardo Ferrão, um dos voluntários do CEIFAC, revela-nos que os verdadeiros visados são as famílias desfavorecidas que se conseguem ajudar através desta empreitada de capacitação, «pois é um conceito capaz de alavancar outras actividades que o CEIFAC desenvolve.» Hoje, ao refazer contactos, ideias e percursos para retomar o ritmo pré-pandémico, assegura-nos que a expansão da Sabão com Arte não visa a industrialização nem a internacionalização: «queremos é que isto tenha uma capacidade produtiva suficiente para se autofinanciar e capacitar cada vez mais trabalhadores.»

«Temos sempre a preocupação de selecionar alguém que em simultâneo estejamos a ajudar, mas é fundamental o negócio crescer para se fazer isso», remata Vieira, sublinhando o actual término do apoio financeiro do Portugal Inovação Social. «Agora estamos por nossa conta e risco e, portanto, é importante arranjarmos maneira do projecto não parar. Até para eventualmente ter mais pessoas a trabalhar aqui, connosco a conseguir pagar salários a todos eles.»

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