«Liberdade, querida Liberdade/O nosso chão tem sonhos e vontade», já canta A Garota Não ou Cátia Oliveira no tema Canção a Zé Mário Branco. Aquela que é uma das mais conhecidas cantautoras de intervenção da actualidade vem a Coimbra com o Festival Política e não vem só, nem tão pouco mal acompanhada.
Entre outros parceiros, a Coimbra Coolectiva colaborou com a organização desta programação única que, de 28 a 30 de setembro, põe a pós-democracia na mesa de Coimbra através do cinema, de performances, de música, humor, exposições, visitas guiadas e debates centrados na defesa do sistema democrático e na promoção da cidadania, intervenção cívica e direitos humanos.
A entrada é gratuita, mediante lotação das salas ou inscrições, as actividades são para maiores de 12 anos, salvo indicação em contrário, e tudo o que é falado tem interpretação para língua gestual portuguesa. Os filmes também são legendados em português, incluindo os de língua portuguesa, a programação em braille está disponível para consulta e as exposições têm audiodescrição, por isso, a acessibilidade está garantida.
Um passeio feminino em Coimbra
«Às vezes, tornamo-nos guias de turismo quase sem querer, um ofício do qual não temos como escapar quando se trata de homenagear, em formato passeio, o protagonismo de mulheres nas suas trajetórias individuais e lutas coletivas.» Em 2021, publicámos a reportagem Um passeio feminino por Coimbra e quatro mulheres extraordinárias, onde rabiscámos no mapa da cidade uma espécie de ligue-os-pontos pelas ruas estreitas, à procura dos recantos repletos de histórias. Um roteiro que quebrasse alguns muros do esquecimento para ouvir novamente a voz de algumas mulheres na construção da memória de Coimbra.
Além de lembrar Isabel de Aragão, Vataça Lascaris, Domitila Carvalho e América Monteiro, percorremos duas ruas especiais para entender o empenho feminino na transformação social e poder revolucionário: a Rua das Padeiras e a Rua das Azeiteiras. A jornalista Vilma Reis vai dar literalmente corpo e voz a este roteiro no sábado, dia 30 de Setembro, às 10h30, desde o Largo D. Dinis até ao Largo da Portagem, passando pela Sé Velha e Pátio da Inquisição.
No mesmo dia, às 15h, João Bigotte guia um grupo pelas avenidas João das Regras, da Guarda Inglesa e outras ruas da zona de Santa Clara à procura de soluções de mobilidade. Parte-se da Antiga Igreja do Convento São Francisco à descoberta daquele degrau do passeio que pode ser demasiado alto, a ciclovia que faz falta, o estacionamento automóvel a mais, e aquelas coisas que ouvimos todos os dias, mas que o que apetece é passar das palavras às acções e mudar para melhor, se possível. Desafiam-se 25 pessoas a participar na Oficina de Soluções de mobilidade de cerca de 1h30, orientada pelo especialista em urbanismo, ordenamento do território e transportes, para apontar problemas com a mesma energia com que se vão identificar potenciais respostas. A ideia é que saiam boas ideias para que Coimbra seja mais amigável, sustentável, segura e descarbonizada, aplicáveis a outras latitudes.
Bigotte é professor convidado da Universidade de Coimbra no âmbito do Programa MIT Portugal, leciona disciplinas de inovação e empreendedorismo nos programas doutorais em Sistemas Sustentáveis de Energia e Sistemas de Transportes. As inscrições são via email para participa.politica@gmail.com e há interpretação para Língua Gestual Portuguesa para quem solicitar.
Cabeças de cartaz
Acompanhámos o warm-up do Festival Política em Fevereiro, conversámos com Hugo Van Der Ding e o filme, espectáculo e debate com elementos da comunidade cigana local. O programa inclusivo e de entrada livre acontece agora de facto, no Convento São Francisco, com dois pontos altos protagonizados por nomes fortes do panorama interventivo nacional: A Garota Não, com o manifesto Seleção Portuguesa: 10 milhões de convocados (29 de Setembro, às 21h30), e Fado Bicha, que evoca personalidades como Hermínia Silva, Pedro Homem de Mello ou António Ferro (28 de Setembro, às 21h30). Também a Edição quase quase política dos Prémios Monstros do Ano, espectáculo de humor com Fernando Alvim cujo alvo são os políticos da actualidade (30 de Setembro, às 21h30).
Juntam-se depois debates, exposições, workshops e actividades para crianças para a «ideia de que os valores democráticos são inegociáveis, tendo na mira os casos crescentes de abraço ao autoritarismo e que levam os cidadãos a votar na sua própria negação», como explicam os directores artísticos Bárbara Rosa e Rui Oliveira Marques que consideram que com o aproximar das celebrações dos 50 anos do 25 de Abril, é tempo de agir e pensar sobre os perigos que a democracia enfrenta.
Cara-a-cara com deputados e deputadas
Sabem os nossos speed meetings? É igual, só que com deputados. Quem quiser pode inscrever-se e ter a oportunidade de conversar durante cinco minutos com representantes de partidos com assento na Assembleia da República sobre um tema, dúvida ou questão. É dia 29 de Setembro, às 18h30, no foyer do Convento São Francisco e as inscrições através do e-mail: participa.politica@gmail.com.
As estrelas alinharam-se também no que toca às bolsas para activistas, artistas e criadores porque um dos vencedores foi Luís Girão, participante da Geração Coolectiva, em co-autoria com Sara Santos. A fanzine Passa-Histórias que criaram é revelada dia 28, às 18h, no foyer do Convento São Francisco. Logo a seguir, no mesmo lugar, podem conhecer-se as exposições de fotografia Institucionalizado, de Isa Marques e Airton Cesar Monteiro, e Revelação, sobre os sonhos escondidos pelo preconceito e falta de oportunidades da comunidade cigana, por iniciativa da CooLabora – cooperativa de intervenção social da Covilhã.
Conhecem o Teatro Legislativo? Já andou pela Baixa de Coimbra. O espectáculo Pensar a Educação parte do conto infantil Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll, e das inquietações dos jovens. É o resultado do processo co-construído envolvendo jovens de idades entre os 14 e os 22 anos residentes no Planalto do Ingote e profissionais de diferentes organizações e projetos como o Trampolim E8G e podemos conhecê-lo dia 30 de Setembro, às 18h, no foyer do Convento São Francisco. Antes, às 16h, tem lugar a história-concerto com oficina para crianças entre os 6 e os 10 anos Made in Osvaldo, desenvolvida pela Real Pelágio.
Cinema
Há uma dezena de filmes para assistir nos Festival Política. Entre eles Alcarràs (2022), longa-metragem vencedora do Urso de Ouro, da realizadora catalã Carla Simón, sobre uma família de agricultores, numa pequena aldeia, que luta por novas formas de sustento depois do proprietário dos terrenos decidir arrancar todas as árvores para instalar painéis solares. É logo no dia 28 de Setembro, às 19h, na Blackbox do Convento Dão Francisco, num dia marcado pela oficina e debate Círculos de Cidadania na Coimbra Business School | Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Coimbra.
Destaque também para a exibição do documentário de realização colectiva Novíssimas cartas portugueses (2022), dia 29 de Setembro às 10h30, também na Blackbox, que questiona o ponto em que se encontra a luta feminista, no 50.º aniversário do livro Novas Cartas Portuguesas. No mesmo dia, às 23h, é a vez das sessões de curtas Portugal ao Espelho e Especial Brasil, com propostas cinematográficas disruptivas desses países, entre elas a curta Somos punks ou não?, de Telmo Soares, sobre a banda de Coimbra 5.ª Punkada.
João Doce e Pedro Cruz, autores do documentário My heart is there, my body is here – com quem conversámos no ano passado -, conduzem um workshop que promove o documentário enquanto ferramenta política e de intervenção na área social (29 de Setembro, às 14h30).
O Festival Política é um conceito da Associação Isonomia e conta com a direcção artística de Bárbara Rosa e Rui Oliveira Marques. Conversámos com eles em Fevereiro e ficámos a saber um pouco mais sobre esta estreia em Coimbra da iniciativa que já acontece há alguns anos em Lisboa, Braga e Loulé. É uma co-produção da Produtores Associados e do Município de Coimbra, com o apoio institucional do Instituto Português do Desporto e Juventude e da Comissão Nacional de Eleições, e conta com a colaboração de vários parceiros locais.
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