Levou os seus Emotional Landscapes ao Thyssen Bornemisza e foi uma das exposições mais vistas de sempre no museu madrileno. Expôs o seu trabalho a solo no Metropolitan Museum of Art e Museum of Modern Art (MoMa) de Nova Iorque, no Barbican Centre de Londres, Hirshhorn Museum and Sculpture Park em Washington D.C., no Palais de Tokyo, em Paris e no Carnegie Museum of Art, em Pittsburgh. Participou no Manifesta 10 em São Petersburgo, em 2014, e representou a Islândia na Bienal de Veneza de 2009. Agora, Ragnar Kjartansson estreia-se em Portugal montando Não sofra mais no Mosteiro de Santa-Clara-a-Nova, a mostra que tem o mesmo nome que a peça criada propositadamente para o espaço, inspirada pelo slogan dos famosos rebuçados Dr. Bayard que o artista islandês conheceu numa outra visita ao nosso país.
Distinguido com o prémios Ars Fennica, Derek Williams Trust Purchase Artes Mundi e Malcolm McLaren de Performa, Kjartansson voa pela primeira vez da cidade natal de Reiquiavique para Coimbra com as suas instalações vídeo, performances, desenhos e pinturas baseadas em inúmeras referências históricas e culturais. Conhecido pelo pathos e ironia das suas obras, influenciadas pela comédia e tragédia do teatro clássico, o artista confunde as distinções entre meios, abordando a sua prática de pintura como performance, comparando os seus filmes a pinturas e as suas performances a esculturas.
De 14 de Abril a 16 de Julho, também podemos conhecer ao vivo The Visitors, considerada a melhor obra de arte do século XXI pelo The Guardian, em 2019. Ficou em primeiro lugar na lista de 25 do conceituado jornal britânico o vídeo em que o artista islandês e os amigos, inclusive membros da banda Sigur Rós, cantam e tocam uma canção cuja letra foi escrita pela ex-mulher de Kjartansson sobre o que ele chama de «derrota comum» do seu casamento. Os Visitantes, numa tradução para o português, tocam diferentes partes do mesmo tema, em diferentes partes da mesma casa, vezes sem conta, durante mais de uma hora e foi capturado em tempo real, ao pôr-do-sol. A ideia é mostrar que a música se constrói, morre e constrói-se novamente, o título foi retirado do último álbum dos Abba e o Guardian descreve a obra como «uma espécie de despedida prolongada ao romantismo, para o qual Ragnar é atraído e do qual desconfia profundamente».
A performance Lots of Sorrow, gravada com a banda The National, com Kjartansson como um dos protagonistas, também vai poder ser vista no Mosteiro de Santa-Clara-a-Nova na mostra que se inscreve no anozero. Nos anos em que não há Bienal, a organização traz à cidade obras individuais marcantes, como foi o caso da exposição de José Pedro Croft, em 2020. Este ano, coincide com a comemoração dos 10 anos de inscrição da Universidade de Coimbra, Alta e Sofia, na Lista do Património Mundial reconhecido pela UNESCO, que foi a classificação que deu origem à própria Bienal de Arte Contemporânea de Coimbra, proposta dois anos depois pelo Círculo de Artes Plásticas de Coimbra e organizada desde então com a Universidade de Coimbra e a Câmara Municipal de Coimbra (CMC).
O propósito da Bienal é propor uma reflexão sobre o confronto entre arte contemporânea e património, explorando os riscos e as múltiplas possibilidades associadas ao património cultural. Por isso, mais do que as exposições, ela é um programa de ação para a cidade que, através de um questionamento sistemático sobre o território em que se inscreve, pode contribuir para a construção de uma época cultural atuante e transformadora.
O questionamento torna-se ainda mais pertinente num momento em que a própria concessão do Mosteiro de Santa Clara-a-Nova está a concurso, até 31 de Maio, no programa de requalificação de património para fins turísticos Revive. O regulamento está disponível na plataforma, estando prevista uma renda mínima anual de 18.800 euros e uma duração da concessão de 50 anos para a requalificação e transformação do monumento num hotel de cinco estrelas. Segundo a CMC, há a possibilidade de majoração da pontuação das propostas que prevejam «um espaço interior de 600 metros quadrados para exposição de peças artísticas da bienal de arte contemporânea de Coimbra, Anozero» ou para «outro evento cultural». «Nos termos previstos no caderno de encargos, é uma opção e não uma condição de participação ou fundamento de exclusão.»
Visitas guiadas gratuitas
Não sofra mais inaugura no dia 14 de Abril às 21h, no Mosteiro de Santa-Clara-a-Nova, mas o Anozero, propõe um programa educativo extenso, que inclui visitas mediadas à exposição e ao mosteiro. Podem fazer visitas mediadas gratuitas e sem necessidade de agendamento todos os Sábados, das 11h às 12h30 e das 16h às 17h30, entre 15 de Abril e 15 de Julho. Com agendamento, para grupos de 3 a 30 pessoas, basta preencher o formulário disponível online. Há visitas em língua portuguesa, espanhola, inglesa e italiana.
Esta é a lista das obras:
1- Me and My Mother, 2000–2020
2- Song, 2011
3- Figures in Landscape, 2018
4- Nur wer die Sehnsucht kennt, 2015–2023
5- The Visitors, 2012
6- Guilt Trip, 2007
7- Nocturne, 2023
8- Death and the Children, 2002
9- God, 2007
10- A lot of sorrow, 2013–2014
11- não sofra mais, 2023
12- The Night We Went to That Club
Marta Mestre e Ángel Calvo Ulloa vão ser os curadores da 5.ª edição da Bienal, de 6 de Abril a 30 de Junho de 2024. Segundo a organização, a equipa vai partir «de uma linha de trabalho ancorada na frase “o mundo eclode e colapsa, simultaneamente, em vários lugares”». O tema e lista de artistas serão divulgados em Setembro.