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Smart Talk «Coimbra, the right place to live»

Ana Bastos: «Querem que se faça rápido, mesmo que mal. E é dessa maneira que seremos avaliados.»

As soluções para devolver a rua às pessoas e travar o trânsito automóvel são hoje recebidas pela vereadora como medidas sem apoio eleitoral, numa cidade dependente do carro, sem planeamento e que vê o investimento privado a desviar-se para outros concelhos.

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Smart Talk «Coimbra, the right place to live»

«Eu também sonho», reagiu Ana Bastos, vereadora da Câmara Municipal de Coimbra com o pelouro do urbanismo e dos transportes, no final do debate Coimbra, the right place to live, inserido no programa da autarquia para a Semana Europeia da Mobilidade. Para trás, ficaram duas horas em que professores, arquitectos, urbanistas e engenheiros avançaram soluções para desenhar uma cidade mais humana, com menos trânsito e mais deslocações a pé, de bicicleta ou de transportes públicos. Até há dois anos, neste mesmo debate, Ana Bastos teria tido «exactamente a mesma postura» e dito também que «temos de ter coragem» para travar o domínio do carro sobre o espaço público. O que mudou? Ganhou as eleições.

«Agora que estou do lado cá, enfrento as dificuldades da materialização destas linhas disruptivas e que não são aceites pela população. Não é falta de coragem ­­política – eu tenho essa coragem. A verdade é que não é possível implementar muitas dessas medidas porque temos imediatamente uma acção que impede a sua concretização», disse. Caso prático recente: na zona da Solum, indicou, há moradores a protestar porque podem ficar sem lugar para estacionar o carro, quando vão passar a ser servidos por uma das linhas do metrobus e ficar «com uma paragem à frente de casa». «Não há qualquer hipótese [de defender a transferência modal] porque a defesa é: ‘Eu quero continuar a ter o meu carro’. Vamos levar pelos menos duas gerações a mudar estas mentalidades», assegurou.

Vereadora Ana Bastos durante uma visita às obras do Metrobus

Ana Bastos é especialista em urbanismo, ordenamento do território e transportes, esteve à frente dos manuais de apoio às Zonas 30 e Zonas Residenciais e de Coexistência, e garante continuar «completamente de acordo» com as linhas contemporâneas de desenho urbano, que dão prioridade ao transporte público e à mobilidade activa. Mas, reforçou, são medidas sem apoio eleitoral, quando o objectivo do executivo é repetir o mandato. «Não é isto que a população nos pede. Não estou a falar por mim — eu gosto de ir em frente e não faço questão de ser reeleita. Mas tenho toda uma equipa que pensa de forma diferenciada e tem todo o direito», sublinha.

«Vem para a participação pública quem quer contestar»

Durante o debate, um dos erros apontados a Coimbra foi a falta de planeamento, com o desenvolvimento da cidade entregue à iniciativa privada. «Estamos de acordo. É fundamental começar pelas bases. Qual é o problema? O planeamento leva tempo. Arriscamo-nos a chegar ao final do mandato sem ter executado nada porque continuamos a sonhar. Nenhum presidente de Câmara vai aceitar andar quatro anos a pensar no território e não ter executado absolutamente nada», defendeu Ana Bastos.

Com o Plano Municipal Director em revisão, a vereadora referiu estar a incentivar «o desenvolvimento de novos planos de pormenor», mas, mesmo a esta escala, o risco de perder o investimento para outros concelhos tem levado a CMC a aceitar os projectos de loteamento avançados pelos promotores privados. «O planeamento não é devidamente valorizado. Querem que se faça rápido, mesmo que seja mal. Isto é pedido directamente à autarquia e é dessa maneira que seremos avaliados no final dos quatro anos», afirmou. Entre a teoria e a prática, os estudos académicos e o mandato político, onde fica Ana Bastos? «A minha postura tem sido intermédia: sem fugir aos meus princípios, procurar dar alguma resposta aos promotores».

Mesmo a proposta de envolver mais os cidadãos no futuro das cidades, chamando-os a participar nas consultas públicas de urbanismo, levanta hoje reservas à vereadora.  «A minha experiência nestes dois anos é que vem para a participação pública quem quer contestar e parar o projecto. Isso tem sido um grande entrave e põe-me a pensar se vale a pena ou se estamos só, como se diz na gíria, a arranjar lenha para nos queimar. Sou a favor da participação pública, mas há este risco», disse.

O debate público sobre a nova estação ferroviária, em Maio, foi uma iniciativa recente do executivo para envolver a população nas decisões da cidade, mas foi criticada por dar pouco espaço às opiniões dos cidadãos.

Já no passado Domingo, num formato mais informal e próximo do que foi defendido durante a smart talk, a CMC apresentou o Plano Ciclável de Coimbra e convidou os presentes à participação. Com um mapa impresso sobre uma longa mesa com o trajecto da Portela à Quinta da Maia – provavelmente o primeiro troço a ser construído dos 200km prometidos para a próxima década -, os cidadãos puderam fazer perguntas directamente aos técnicos responsáveis pelo projecto e anotar com lápis as suas questões ou propostas. Foi no final da Kidical Mass, organizada pela Kidical Mass Portugal em parceria com o Coimbr’a Pedal, uma iniciativa integrada na Semana Europeia da Mobilidade.

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