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Como novos pratos, publicidade e obras podem trazer mais pessoas ao Mercado Municipal

Comunidade, comerciantes, arquitectos e responsáveis da Câmara Municipal debateram os problemas e atiraram ideias para o presente e futuro do Mercado D. Pedro V. A comunicação e cumprimento do horário de funcionamento foram das melhorias a fazer mais apontadas.

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Fotografia: Mário Canelas

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Antes de 1998, o Mercado D. Pedro V tinha mais de duzentos operadores. «Era tudo muito precário, insalubre, mas era muito vibrante», conta Teresa Freitas. A arquitecta aceitou o convite da Coimbra Coolectiva para a conversa aberta que pôs o futuro que queremos para o mercado na mesa do equipamento municipal, na passada quinta-feira, 23 de Novembro. Numa intervenção esclarecedora, Teresa explica que foi necessário lidar com os desafios do edifício para criar condições de conforto e estacionamento – que, por exemplo, não foi possível ser subterrâneo, por baixo do próprio mercado -, além do «desaceleramento económico», «excesso de concorrência dentro da própria cidade e mudança de hábitos de consumo» que se seguiram.

«Houve a necessidade de fazer o projecto de 2018 com o que nós tínhamos. Gostava de ter um mercado mais aberto para rua, mais transparente, com melhor relacionamento com a rua e as pessoas», revela. A última empreitada de requalificação terminou há dois anos, em Dezembro de 2021, e foi feita para implementar novas dinâmicas de funcionamento, à semelhança de exemplos de outros mercados do país e da Europa. Acrescentou-se a componente de restauração, criaram-se espaços para eventos e incubação social, orientaram-se as lojas para um tipo de negócios «mais atual e com mais hipótese de sucesso», e foi criado um jardim-miradouro. «A restauração que esperávamos para aqui era os petiscos, os pratinhos, as tapas. É o que é expectável, que as pessoas esperam. Na rua das Fangas, aquilo está cheio de gente, as pataniscas e o bacalhau com grão, e isso não apareceu aqui.» O assunto foi repetido várias vezes longo da sessão e respondido pelo responsável, Carlos Catarino, do grupo Renasceia. Mas já lá vamos.

Teresa Freitas, arquitecta Câmara Municipal de Coimbra

Teresa Freitas revela uma ideia que a Câmara Municipal está a desenvolver. «Temos a vontade de, no Mercado de Peixe, conseguir a tal abertura para o exterior, a relação com a rua. Para isso há aqui um estudo de intenções de abrir o mercado. É abrir mesmo: aquelas paredes cinzentas passarem a ser vãos abertos, montras, portas, saídas. Para ser possível ler-se para dentro do mercado, ter esplanadas, unir aquela animação da Sá da Bandeira e poder entrar a partir de lá».

«Este enquadramento é fundamental para se poder agir com conhecimento. O diagnóstico pelos vistos está feito. Agora é preciso a coragem e a determinação política», atira Nuno Valentim. O arquitecto que assina a multi-premiada obra de reabilitação do Mercado do Bolhão, que actualmente recebe em média 20 mil visitantes por dia, nota que «os mercados centrais das cidades estão sobredimensionados. Têm área a mais, programa a mais. Nos anos 90, muitos foram vítimas de uma ambição que não antevia as crises e o contínuo afastamento desta lógica do próprio mercado, por isso, é extraordinário que a Câmara Municipal de Coimbra tenha feito várias tentativas de contrariar a situação.»

Nuno ficou com o quarto projecto de reabilitação do Mercado do Bolhão, no Porto, no espaço de 30 anos. Considera que foi uma vantagem, porque «sabiam muito bem o que fazer e o que não fazer». «É preciso fazer um downsize e ser muito inteligentes na reprogramação complementar que é necessário fazer», explica. No Bolhão, conta, o mercado de frescos ficou na base e os programas complementares e restaurantes foram colocados nas galerias. Há oferta antiga e nova: 110 operadores (70 históricos e 30 recentes). O horário foi alargado das 7h às 17h para das 8h às 20h, mas «os históricos, que já fizeram o seu percurso e agora estão a vender como nunca, vão-se embora às 17h. Estão a ser aplicadas multas. É um exercício muito difícil, que tem de ser visto caso e a caso, muito em relação com a comunidade.»

No Mercado D. Pedro V há pessoas que não cumprem os horários e as lojas fechadas são actualmente apontadas com um dos problemas. Outro factor é a programação. No Bolhão, a restante galeria é espaço público aberto à cidade para apropriação e Nuno arrisca dizer: «anda tudo a tentar ter a ideia mais rocambolesca quando, na verdade, às vezes não programar pode ser o segredo, deixar que a cidade entre e se aproprie.» A Câmara Municipal do Porto montou uma estratégia com a equipa de gestão do mercado e criou um gabinete específico para identificar o perfil de cada operador. De acordo com o arquitecto, foi feito um levantamento extenso das condições sócio-económicas e re-licenciamento dos operadores «com uma mão muito firme». «Há licenças anacrónicas, que não fazem sentido continuar», diz.

Enquanto esteve em obras, «o mercado temporário teve campanhas publicitárias fortíssimas, com os vendedores como protagonistas. Eram eles que apareciam em múpis, nos tapumes que envolviam a empreitada, no metro. Foi muito radical a estratégia e com uma qualidade gráfica e conceptual que depois levou à identidade do próprio mercado. A Câmara [Municipal do Porto] fez um esforço incrível para dar a conhecer à população que o mercado estava a ser construído, estava a ser preparado». E qual o resultado? «Nos quatro anos de obra, a média de visitantes e vendas duplicou sem o Bolhão abrir, só pelo esforço de activar a marca e comunicá-la à população. Foi extraordinário

Desafios dos comerciantes

Ana Paula Simões, comerciante da Carnes da Nossa Aldeia, trabalha no mercado há cerca de 30 anos, confirma que o mercado já passou por várias fases, de muita e de pouca afluência, mas não demora até afirmar que há coisas que não estão bem no seu sector. A reabilitação mais recente teve vários pontos positivos, admite, mas faltam as pessoas.

Carlos Catarino garante que conhecia a realidade de outros mercados do país e do mundo quando concorreu à concessão dos 14 espaços e restaurante no primeiro piso do Mercado Municipal. «Definimos alguns conceitos de comida que implementámos. Amanhã podem ser outros. O nosso contrato permite subconcessionar espaços para outros restaurantes da cidade. Da nossa parte, tínhamos a obrigação de implementar alguma dinâmica no mercado: música nalguns dias da semana, feira do livro, feiras, eventos, maratona de cycling, festa da cerveja (Strong Beers) (…) Tentamos ter uma dinâmica de eventos que permita maior afluência. Ainda não houve tempo suficiente para consolidar.» 

Perguntámos se a Renasceia considera alterar a ementa. «Estamos a pensar ter na Praça uma zona com serviço, com quatro ou cinco pratos tradicionais da região, que sejam servidos à mesa. Parece fácil mudar, mas as coisas precisam de tempo e estão a ser pensadas», responde. O empresário diz que falta ao mercado uma lógica de dinamização, um parceiro que trate do marketing, programação, lojas para actividades culturais e exposições. «É muito grande, precisa de mais mobiliário urbano.» Questionado sobre a circularidade dos negócios e se a Praça era fornecida pelos comerciantes do equipamento, afirma: «Obviamente que tentamos comprar no mercado». Mas confessa que «há muito produto que falta» e diz que «também podia falar no preço».

Filipe Duarte, do Super Local, é taxativo: «As pessoas não vêm ao mercado». Admite que o negócio não está a correr bem e que quer pôr comida na mesa e não consegue. «Não é o suficiente para ser sustentável. Queremos que venha mais gente ao mercado, que seja um espaço multifuncional. Se não fossem os mercados, os pequenos comerciantes, na pandemia, as pessoas não tinham o que comer. Mas isso não ficou, as pessoas esqueceram-se. Há dias em que não se vende nada», lamenta. O comerciante assume a missão de «educar as pessoas de Coimbra e não só para os benefícios de consumir localmente», quer ambientais, como sociais e económicos. A comunicação desta mensagem, sugere, «pode ser conjunta».

«Não há informação lá fora, as pessoas não sabem que há mais vida para além da vida da zona tradicional do mercado» diz Carla Rézio. Abriu a loja Simplifica há quatro meses e aponta o dedo aos espaços encerrados enquanto este debate decorre. «Mesmo as lojas que foram licitadas não cumprem horários. As pessoas dão meia volta e vão-se embora», relata. Ana Paula concorda. «Há pessoas que chegam à entrada do mercado, entram, olham e vão-se embora porque vêem tudo fechado.» No rés-do-chão, continua, «há bancas de hortaliças que estão vazias. Foram a hasta pública e não está lá ninguém. As bancas dos produtores estão cheias às sextas-feiras e nos sábados. Vêm cá à terça e quinta e não há nada. Eu acho que há produtores que recebem um incentivo para vir vender. Há um projecto nesse sentido. A nossa sugestão é que esse incentivo implique uma determinada regularidade. Caso contrário, tem um efeito muito negativo. Dá mau aspecto.»

Outra ideia foi que os funcionários da Câmara Municipal de Coimbra estacionassem no edifício em frente, da antiga Manutenção Militar, porque os veículos dos funcionários «são várias vezes multados». Os comerciantes não têm lugar designado nem isenção ou desconto no custo da utilização do parque de estacionamento.

O vereador Miguel Fonseca, com as pastas da astas da Economia, Empreendedorismo, Mercados Municipais e Comércio, tomou notas ao longo da conversa que decorreu em três blocos e culminou com as respostas da Câmara Municipal, que gere o Mercado D. Pedro V, representada também por António Albuquerque, director do Departamento de Desenvolvimento Económico. Fonseca considera «claramente tímida, uma maquilhagem, uma intervenção a custos controlados» a remodelação no mercado herdada do executivo anterior, e observa que, ao longo dos dois anos de mandato, a autarquia realizou três hastas públicas (a quarta é a 30 de Novembro) que considera que «estão a ajudar a renovação do mercado».

O vereador lembra que a Renasceia tem o mérito de ter sido a única empresa que respondeu ao pedido de ocupação da Praça e que havia a intenção de haver uma oferta mais típica na restauração. Questionado sobre a comunicação e a criação de uma página online do mercado, Fonseca atira que estará pronta até Outubro de 2025, no prazo de execução do projecto dos Bairros C Digitais. Apesar de afirmar que o objectivo do município é captar novos públicos, referindo a abertura do TUMO Coimbra no edifício vizinho, mantém que «a questão dos horários não é determinante», e sim a restauração. «Temos aqui um perfil que é distinto dos outros. Não vamos romper com a tradição. Se formos à Baixa, estes serão mais ao menos os horários de fecho das lojas.»

O proprietário da Renasceia nega qualquer compromisso inicial com uma ementa tradicional e identitária da cidade e região, e reafirma: «Não nos podemos substituir à gestão do mercado. Temos obrigações, mas também temos direitos. Não é por não vendermos aqui orelha que o mercado não funciona. O mercado precisa de muitas coisas, é uma solução multifactorial, tem de haver concursos contínuos para trazer outras pessoas a trabalhar no mercado». «Temos pessoas com 80 anos que vêm cá passar o dia, para não estarem em casa. Vamos mandar embora pessoas para quem isto é o oxigénio delas?», lança.

O público reagiu. «No dia 8 de Novembro, tive uma sessão fotográfica que terminou às 19h30 e sugeri [aos clientes] jantarem aqui», conta a fotógrafa Margarida Carvalho, dirigindo-se a Carlos Catarino. «É bom para mim e para vocês. Às 19h45, o meu cliente foi à restauração e foi dito que ainda não tinham nada preparado e que ainda iria demorar algum tempo. Esta situação tem de ser divulgada e resolvida.» Não foi a única. A Coimbra Coolectiva recebeu vários relatos negativos sobre o atendimento e horários de funcionamento da Praça. Outro comerciante apontou o dedo à ocupação dispersa ou desiquilibrada dos negócios.

Rita Neves e Filipa Cunha, da direcção do TUMO

Rita Neves e Filipa Cunha, da direcção do TUMO, assistiram ao debate e comentaram, à margem da conversa, que «o Mercado D. Pedro V tem potencial para ser um ponto de encontro para a comunidade, e uma ligação forte à vida local. Para o TUMO é também importante este espaço, tendo o potencial de dar resposta às centenas de estudantes e famílias que passam diariamente agora por esta zona. O desafio é conseguir melhorar os horários e oferta a este novo público.»

António Albuquerque rematou a conversa dizendo que o município aceita as críticas e sugestões, e que a postura é de diálogo franco com todos os operadores. «Venho aqui quase todos os dias. Em primeira instância, quem gere o mercado, deve preocupar-se com todos aqueles que estão aqui. Reconhecemos que há um défice de comunicação do mercado», afirmou, avançando que o município vai financiar com fundos comunitários a nova intervenção no edifício e que vai haver investimento na comunicação no exterior do mercado.

Teresa Freitas também acendeu uma luz: «O mercado não é uma obra acabada, é um laboratório, vamos aqui fazer experiências, é para isso que aqui estamos», mesmo insistindo que «a questão da restauração é importante». «Como a Coimbra Coolectiva já publicou, o mercado é o sítio onde as famílias devem vir, os estudantes estudar, os amigos encontrarem-se para beber um copo ao final da tarde. Aqui devíamos ter um atendimento personalizado que não temos na concorrência. Temos sempre essa esperança que isso vai acontecer.» A arquitecta defende a relação simbiótica do Mercado com a Baixa e nós ficamos com as palavras de Nuno Valentim no ouvido: «É necessário diálogo; é necessário conhecer os vendedores. Tem de ser um discernimento feito aqui, localmente, com a participação dos vendedores e da população.»

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