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Sérgio Praia: “Seja em Coimbra ou em Lisboa, é preciso estas pessoas para isto mexer”

  “Eu sou do Furadouro, Ovar. Conhecia muito pouca coisa do António [Variações], mas uma coisa que me tocou muito foi a vontade desde muito cedo de ele querer sair da zona de conforto e ir para o mundo. E muitas vezes nós vamos à procura do mundo nas próprias cidades, não precisamos de vir […]

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“Eu sou do Furadouro, Ovar. Conhecia muito pouca coisa do António [Variações], mas uma coisa que me tocou muito foi a vontade desde muito cedo de ele querer sair da zona de conforto e ir para o mundo. E muitas vezes nós vamos à procura do mundo nas próprias cidades, não precisamos de vir do Interior ou de terras mais pequenas. O lado da terra mais pequena é que há um menor conhecimento do que nos espera. Eu senti muito essa ligação com o António, esse desconhecido, mas também é algo que ainda hoje me faz sentir vivo. É isso que me faz querer continuar nesta profissão e muitas vezes em condições muito mal pagas, tanto na minha como em tudo o que envolva a arte, mas há qualquer coisa em nós que nos empurra e que nos diz ‘vai’, mesmo que não tenhas dinheiro ‘vai’, mesmo que não comas hoje ‘vai’. Estes sonhos, estas vontades, é o nunca desistir. E, principalmente – e é uma coisa que me emociona -, é que eu gosto muito muito muito daquilo que faço. Eu amo a minha profissão, gosto mesmo de emocionar as pessoas, e foi isso que vi no António: essa força, esse contra toda a gente. As pessoas às vezes dizem que ele era muito incompreendido mas eu acho que as pessoas não tinham de compreender na altura, aquilo era estranho, eu percebo a dificuldade, mas esta resiliência de não querer ser metido dentro de uma gaveta, isso é que me levou a procurar e a escavar mais este homem. Acho que é muito preciso, seja em Portugal ou em França, seja em Coimbra ou Lisboa, é preciso estas pessoas para isto poder mexer, senão somos todos carneirinhos e estamos aqui metidos a agradar uns aos outros e eu também não quero isso”.

 

Nunca acreditei que o João fosse para a frente com esta questão de eu cantar no filme, sempre achei que o António era o António, sentia que ia enganar as pessoas porque o timbre dele é o que temos de maior tesouro, porque não temos muito material dele. Eu podia ser chacinado muito facilmente. Mas a certa altura pensei que tinha de pôr isso de lado e fazer principalmente uma coisa que o António adorava que é a celebração com as pessoas, com o público real. Ir para o meio das pessoas. Não gosto muito de sentir o trabalho para o meu umbigo, acho que trabalho para as pessoas. Estamos a entrar numa fase ou numa Era em que se está a trabalhar muito para a auto-promoção, para o umbigo, e acho que temos de combater isso porque nós não trabalhamos para nós. Estou muito contente com este prémio mas estou sobretudo contente com a adesão ao filme, porque de facto temos todos esta coisa de sonhar, de concretizar um sonho. Isso foi o que mais me tocou quando comecei a estudar o António, essa busca que é comum a toda a gente. Este filme é tão português como do mundo inteiro, é humano, é saber que vamos embora mas querer deixar aqui qualquer coisa. A dificuldade do António é que ele sempre quis ser muita coisa ao mesmo tempo e isso é muito difícil. Eu nunca tive a pretensão de querer separar, para mim é sempre uma continuidade, tanto que isto demorou 15 anos – começou com o filme, depois a impossibilidade do filme trouxe a peça de teatro e a peça de teatro acabou por ajudar a trazer o filme.”

 

Sérgio Praia falou com a Coolectiva minutos depois de receber o prémio de Melhor Actor com o filme Variações (2019) no Festival Caminhos do Cinema Português, no Teatro Académico Gil Vicente. Dançou e cantou quando lho entregaram no palco. O filme de João Maia sobre o cantor português também foi distinguido com os galardões de Melhor Guarda-Roupa (Patrícia Dória) e Melhor Caracterização (Magalí Santana), Melhor Atriz Secundária (Teresa Madruga) e Melhor Ator Secundário (Filipe Duarte). Está aqui a lista completa dos vencedores da XXV edição do festival que terminou no Sábado.  

 

Texto:  Filipa Queiroz
Imagem do filme Variações (João Maia, 2019)
  

Biografia

Sérgio Praia tem 42 anos e é natural do Furadouro, em Ovar, onde chegou a ser mestre-sala numa escola de samba. Estudou no Porto e foi para Lisboa em 1998, para fazer uma peça no Teatro D. Maria II e frequentou muito as casas de fado de Alfama e do Bairro Alto. Participou em programas e séries de televisão desde Saber Amar (2003) e Inspector Max (2004) a Rosa Fogo (2012) e Prisioneira (2019). Antes de Variações (2019), um projecto que começou há 15 anos e que foi também peça de teatro, fez Parque Mayer (2018) no cinema. Actualmente é líder do quinteto Variações com Armando Teixeira, dos Balla, e tem actuado um pouco por todo o país inclusive no festival Nós Alive. 

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