Quase 15 milhões de bicicletas foram produzidas na Comunidade Europeia (CE) em 2022, o que significou um crescimento de 10% sobre o ano anterior. Representou ainda um acréscimo de 29% sobre a década de 2012 a 2022. Querem uma terceira boa notícia? Portugal respondeu por 2.7 milhões de unidades do total, mantendo, assim, sua liderança como maior produtor da CE.
Temos também boas novas para os ciclistas de Coimbra – e para quem ainda não aderiu a este meio de transporte, que faz bem a tudo e a todos. Com 18 membros, o Coimbr´a Pedal, grupo informal reactivado em Março deste ano, está a ampliar seu alcance, com várias iniciativas para atrair mais pessoas e fazê-las adotar bicicletas, elétricas ou manuais, como principal meio de locomoção ou lazer (ver separador azul em cima).
Massa Crítica
Uma das actividades que o Coimbr’a Pedal promove regularmente é a Massa Crítica, passeio de bicicleta mensal que celebra o uso da bicicleta e afirma o direito dos ciclistas à circulação nas vias públicas. Acontece sempre na última sexta-feira do mês e tem como ponto de encontro o Largo da Portagem, às 18h. O percurso é definido pelos participantes.

No campo dos vai lançar brevemente o Bike Friendly, um selo que será afixado em estabelecimentos dos mais variados serviços que, como o nome indica, são amigos, apoiam e querem ajudar a disseminar a proposta do movimento de incentivo à mobilidade ciclável.
O selo indicará que estabelecimentos comerciais – como cafés, lojas, restaurantes, mercados, cabeleireiros – são parceiros do movimento e os clientes ou visitantes ciclistas podem, por exemplo, ter um desconto nos produtos, como adianta a designer e co-fundadora do estúdio de tecnologia Bloco, Cláudia Acabado. É dela a finalização da arte do selo, que, como tudo na Coimbr´a Pedal, é uma criação colectiva.

«É um benefício dual», complementa Duarte Miranda. Ganho ainda mais alargado foi o computado quando Coimbra passou a integrar, em maio, o Global Kidical Mass, movimento mundial para dar visibilidade às necessidades das crianças para que elas se desloquem de forma segura. Organizado pela Coimbr’a Pedal e coberto pela Coimbra Coolectiva, a organização esperava cerca de 30 a 40 participantes no máximo, mas foi surpreendida por 130 crianças, jovens, adultos e adultas, prontos a pedalar ao longo de três quilómetros.
Miguel Coimbra avança que também há o projeto Bike Buddy ou Bike Angel na calha. Consiste de um ciclista já experiente acompanhar quem tem receio de pedalar sozinho nas vias públicas, servindo como um guia. O «anjo» que acompanha o iniciante também desempenha o papel de educador, na medida em que ensinará o código de trânsito dos ciclistas. «Com duas, três pessoas, dá mais segurança», diz Miguel.

«Defendemos o convívio entre carros e bicicletas e que se coloque no lugar do condutor [de bicicleta], pois todos já fomos ou ainda somos condutores [de bicicleta]. Para ser respeitado é preciso respeitar», ressalta Miguel, lembrando que as bicicletas devem ser tratadas como se tivessem a mesma largura de um carro – daí só se poder ultrapassar a um metro e meio distância. Ele garante que a situação está bem melhor: «Antes eram muito mau, muito buzinanço. Hoje isso é raro».
Se a segurança nas estradas aumentou, mas a segurança em relação ao estacionamento ainda está a ser melhorada. Há muitos locais que não dispõem de estacionamento para bicicletas e o Coimbr´a Pedal também ajuda nisso. No site do grupo há um modelo de carta para o ciclista enviar para a empresa ou instituição solicitando que seja instalado. «Descomplicamos tudo», diz Duarte. E descomplicar significa também, na sintaxe do Coimbr´a Pedal, fornecer informações preciosas que venham a contribuir com a democratização do uso da bicicleta. Por exemplo: que o Fundo Ambiental, da Secretaria-Geral do Ambiente, oferece subsídios para a compra de bikes, quer elétricas ou convencionais, que podem chegar a 1500€.

A nível nacional, a Comboios de Portugal lançou, em agosto, o passe para quem tem bicicleta. Na contra-mão do mundo, no entanto, não está previsto o transporte de bicicletas no metrobus, mas João Marrana, administrador da Metro Mondego disse à Coimbra Coolectiva que há esperança e pelo menos uma das primeiras estações já contempla estacionamento.
A nível local, faltam incentivos financeiros, dizem os membros da Coimbr’a Pedal. Lisboa e Braga oferecem-nos. Por enquanto, o apoio da Câmara Municipal de Coimbra tem-se limitado à criação de ciclovias, que totalizam 18,4km, e um projeto de estacionamento de bicicletas, que deve oferecer um total de 80 vagas. Sobre a construção de mais ciclovias, o trio afirma que a população deveria ser consultada sobre os itinerários. «Apoiar a mobilidade ciclável é melhorar a vivância dos cidadãos», remata Duarte.

Para o Coimbr’a Pedal, a autarquia deve ser mais pró-ativa e implementar serviços que façam com que a «cidade seja para os cidadãos e não para as máquinas, as pessoas interessadas são também eleitores». E dão um exemplo: as bicicletas compartilhadas, «antes que a EU transforme em normativa». Duarte diz que uma rede de ciclovias ampla também ajuda na democratização, na medida em que as pessoas podem morar em sítios mais afastados e com renda mais em conta, pois os gastos seriam muito menores, visto que uma bicicleta elétrica tem autonomia de 70 quilómetros e o preço para recarregar é quase simbólico.

Segundo Miguel, o executivo de Paris comparou os dados relativos à infraestrutura necessária para que a capital francesa priorizasse as bicicletas, ao invés dos veículos motores, como é o comum, com os ganhos indiretos em outras áreas, especialmente a saúde, e entendeu que até financeiramente as deslocações sobre duas rodas são muito mais vantajosas.
Não é de surpreender que no Bike Friendly Index, um ranking que mede o grau de aptidão dos concelhos portugueses para o uso de bicicletas, feito por investigadores da Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa, Coimbra apareça na 19ª posição, entre os concelhos com mais de 100 mil habitantes, e em 11ª colocação entre as capitais.

Incansável no propósito de disseminar a bicicultura, entre os projetos do Coimbr´a Pedal está o de ter uma sede física, o que facilitaria o desenvolvimento de várias atividades: funcionar como ponto de encontro e de convívio, criação coletiva de novas atividades, atrair mais pessoas, realizar cicloficinas e também vender as t-shirts do grupo (que, aliás, já é possível fazer e serve como angariação de fundos para o grupo informal). A partir destas atividades e com a ajuda de doações, a ideia é iniciar um projeto arrojado: doar bicicletas para jovens carenciados e democratizar a mobilidade suave.
«Queremos ser agentes de mudança», diz o trio, com um largo sorriso estampado. O mesmo que levou Cláudia e dizer a frase que dá título a este artigo.
Gostaram do que leram?
E repararam que não temos publicidade?
Para fazermos este trabalho e o disponibilizarmos de forma gratuita as leituras e partilhas são importantes e motivantes, mas o vosso apoio financeiro é essencial. Da mesma forma que compram um lanche ou um bilhete para um espectáculo, contribuam regularmente. Só assim conseguimos alcançar a nossa sustentabilidade financeira. Vejam aqui como fazer e ajudem-nos a continuar a fazer as perguntas necessárias, descobrir as histórias que interessam e dar-vos a informação útil que afine o olhar sobre Coimbra e envolva nos assuntos da comunidade.
Contamos convosco.